Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
O
Brasil precisa de reforma ou de transformação? Essa é uma questão que
não pode passar ao largo da nossa agenda de interesse social. Ora, se o
Brasil muda constantemente, mas para ficar sempre do mesmo jeito, ou
pior, o que há de errado em nossa jornada como nação que precisa de uma
reforma ou mesmo de uma transformação?
O
binômio reforma e transformação está sempre na ordem do dia. Portanto, é
importante que façamos algumas definições. Algo precisa de reforma
quando se deteriorou, ou se quebrou, ou tomou curso errado, ou se
deformou. Desse modo, reformar é formar de novo, reconstruir, emendar,
corrigir, retificar, restaurar. Quando se quer dar uma melhor forma, ou
se faz um aprimoramento para colocar algo em bom estado, sem, contudo,
mexer nas estruturas, está-se falando de reforma. Em suma, reformar é
fazer um “movimento para trás”, é levar algo à sua situação original.
Por
esse aspecto conceitual, convém indagar se haveria, na história do
nosso país, algum momento especial ou condição social para onde
poderíamos engendrar um movimento reverso, uma caminhada de retorno a
partir de uma reforma que nos colocasse naquela mesma posição. Haveria?
Por
outro lado, uma transformação indica um “movimento para além de”, não
um retrocesso. Transformar é dar nova forma ou feição a alguma coisa,
tornando-a inteiramente diferente do que era; é mudar, converter,
alterar, modificar, transfigurar, metamorfosear.
As
palavras sinônimas ‘converter’ e ‘metamorfosear’ indicam uma mudança de
caráter substancial. Elas se referem ao mesmo processo de uma asquerosa
lagarta se transformar numa linda e lépida borboleta. Logo após, o que
se observa não é uma lagarta reformada, mas uma ex-lagarta, um novo ser;
agora é uma borboleta, pois mudou sua essência e forma.
Não
precisamos ir muito longe para verificarmos as muitas coisas para as
quais apenas uma transformação daria jeito em nosso querido Brasil.
Muitos
países que outrora ostentavam índices de corrupção e violência muito
piores do que os brasileiros, hoje, por força de reformas onde cabiam e
de transformações onde eram exigidas, cujo processo se deu através de
grandes investimentos pessoais e financeiros principalmente na educação,
conseguiram se elevar a níveis virtuosos em quase todos os aspectos da
vida social.
A
ONU, através de seu Relatório Global de Felicidade, aponta a corrupção
no Brasil como o grande vilão a impedir a felicidade do nosso povo. E
sabe-se sobejamente que a corrupção é filha ilegítima da impunidade; e
quando muito, esta lhe é apenas uma péssima madrasta.
Agora,
em termos pessoais, muitos indivíduos outrora perdidos, muitos dos
quais “modelos” viciosos da maldade, por força de uma transformação na
própria essência do ser e também de uma reforma no seu comportamento,
vieram a se tornar pessoas pacíficas e úteis à sociedade.
O
líder religioso Nicodemos não sabia se precisava de reforma ou de
transformação. Ele foi ter com Jesus às escondidas para falar sobre as
pré-condições para receber a vida eterna. Mas Jesus lhe disse: “Se
alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” (Jo 3.3).
Nicodemos tinha uma vida reformada, por isso não entendeu a mensagem do
Mestre, pois pensou que se tratava de uma reforma, ou seja, voltar ao
ventre da mãe e nascer novamente. Jesus indicou-lhe, porém, que faria um
sacrifício expiatório pelos nossos pecados, o qual redundaria numa
transformação radical para uma nova vida, cuja reforma, a partir daí,
duraria a vida toda.
Uma
pessoa apenas “reformada” é a que se habituou a certos procedimentos
socialmente corretos; educou-se e deu polidez às suas atitudes e ações;
refinou-se na religiosidade e moldou-se para fazer o que é certo. Mas
como todos têm um “calcanhar de Aquiles”, é só pisar no “calo” de alguém
para que se revele o verdadeiro ser escondido em sucessivas camadas de
“verniz religioso”.
O
caminho da religião é apenas reformar. A vida se torna numa sucessão de
regras e cobranças que, se cumpridas, pretendem garantir um lugar no
Paraíso. Religião é, pois, o esforço do ser humano para melhorar-se e
chegar a Deus. Por isso, pagam-se promessas, fazem-se penitências,
cumprem-se certos deveres, e pronto!
O
plano de Deus é totalmente diferente, centrado na transformação do ser
humano pela conversão a Cristo, não em uma reforma. O pecado nos
deformou de tal modo que somente uma mudança essencial, isto é, uma
transformação do próprio ser, poderá nos tornar aptos a permanecer na
presença do Deus santo e verdadeiro.
Cristo
é o caminho! Pelo seu sacrifício na cruz, abriu “um novo e vivo
caminho” para que, transformados, cheguemos a Deus (Hb 10.20). Está
escrito: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas
já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co 5.17).
O
Brasil precisa de Jesus. Os brasileiros precisam de Jesus. O Brasil
precisa de transformação e de reforma. Assim também os brasileiros.
Reformar custa muito. Transformar custa tudo. Mais do que mera
semântica, essa é uma diferenciação que tem a ver com o nosso destino
eterno, como pessoas e como país.
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