segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A verdadeira bússola da vida

 
 
 
Conta-se que um velho marinheiro era contumaz em se perder no mar. Então seus amigos resolveram dar-lhe uma bússola e arrancaram dele o compromisso de usá-la em todas as suas viagens. Quando saiu novamente em seu barco, finalmente ele seguiu o conselho de seus amigos e levou a bússola consigo. Mas, como sempre, ele se confundiu e não conseguiu voltar. Finalmente, depois de alguns dias, foi encontrado e resgatado pelos amigos. Aborrecidos e impacientes, lhe perguntaram: “Por que você não usou a bússola que demos? Teria nos poupado todo esse trabalho!”
O velho marinheiro respondeu: “Eu bem que tentei! Queria ir para o Norte, mas por mais que eu tentasse virar a agulha naquela direção, a bússola só apontava para Sudeste”. O problema é ele estava tão confiante em sua “experiência” no mar e absolutamente certo de saber em que direção ficava o Norte que, teimosamente, tentava impor sua vontade à bússola.
Convém lembrar que, durante séculos, a bússola foi o mais popular e confiável instrumento de localização, principalmente para quem singrava a imensidão dos mares. Hoje, em tempos de tecnologia do sistema de posicionamento global, mais popularmente conhecido como GPS, cuja localização é realizada por satélites na órbita terrestre, a velha bússola está em desuso crescente. Mas em muitos lugares, principalmente aonde essa tecnologia ainda não chegou, ela continua na ordem do dia de guiar os viajantes.
No sentido figurativo, bússola é tudo que serve de guia ou norte. Desse modo, todos nós precisamos de uma bússola para a vida. Precisamos saber a direção que daremos à nossa vida, saber de onde partimos e para onde estamos indo. E se algo der errado no caminho, se falharmos por algum motivo, podemos ter a certeza de saber retornar e começar de novo.
Não são poucas as pessoas que começam, mas não sabem como terminar; partem, mas não sabem como retornar. Como o velho marinheiro, perdem-se em algum lugar no caminho, cometem erros que as atrasam ou inviabilizam sua trajetória. Há também aqueles que sequer sabem para onde seguir. Sem uma bússola confiável, andam a esmo, sem alvos específicos, sem metas claras, de modo que qualquer caminho as levará para lugar nenhum.
Há os que, sob o peso das exigências normais da vida, perdem o compasso e desistem de tentar, deixam de lutar, ficam paralisados diante dos obstáculos, deixam de buscar seus alvos, prendem-se ao passado e, deprimidos, entregam-se às lembranças de conquistas de outrora. Mas há também aqueles que lutam até o fim, começam e terminam, e completam a trajetória com a certeza de que, a despeito das adversidades, deram o melhor de si e chegaram lá.
Que todos precisamos de uma bússola, não se discute. O problema é o tipo de bússola a utilizar. Por isso, posso apresentar a que considero ser a melhor e mais precisa. A Bíblia é a “bússola da vida”, é segura e eficiente, pois aponta um Norte para as nossas vidas: aos desorientados, mostra o rumo certo; aos perdidos, aponta o caminho da salvação em Cristo. Além disso, ela é uma “carta” de amor, do maior amor, o amor de Deus por mim e por você;
A Bíblia é também uma bússola de orientação da nossa interioridade: é o bálsamo que cura as feridas da alma, é o martelo que esmiúça as pedras da dúvida, é a luz que ilumina o nosso ser. Ela é também é o fundamento de nossa fé, pois a “fé vem pelo ouvir e o ouvir pela Palavra de Deus”.
Há pessoas que contemplam a Bíblia a partir de seus graves preconceitos religiosos; e outras, a partir de seu ceticismo. Essas pessoas jamais se tornam capazes de ser positivamente influenciados pela sua mensagem, e acabam rejeitando-a.
Tal como os pescadores que estabeleceram um curso e dirigiram seu barco para águas profundas onde supostamente encontrariam muitos peixes. Todavia, quando ligaram o sonar e se deram conta, estavam a quilômetros do local pretendido, desorientados e sem peixes. Logo descobriram que haviam deixado uma lanterna bem próxima da bússola do barco e o ímã preso a ela acabou afetando o funcionamento da bússola. Assim como aquele ímã mudou a orientação da bússola, um coração comprometido com preconceito ou incredulidade pode influenciar o pensamento e afastar alguém da verdade bíblica.
Muitos dos conterrâneos de Jesus o rejeitaram por causa de sua religiosidade eivada de preconceitos; e resistiram a Ele por causa da ameaça que Ele parecia representar para o status quo garantido por suas tradições religiosas. Assim, em vez de analisarem cuidadosamente as Escrituras, a qual teria confirmado quem era Jesus, eles mesmos determinaram o que preferiam crer... e preferiram rejeitar a Jesus.
Desse modo, procure ler as promessas de Deus contidas na Bíblia, pois elas fornecerão um rumo certo, uma clara orientação sobre como ser um vencedor e ter paz na vida. Antes, porém, procure se despir de suas ideias preconcebidas, de seus preconceitos religiosos; e dispa-se de suas “certezas” que vão de encontro às verdades espirituais reveladas pelo próprio Deus na Bíblia Sagrada. Pois é nela que você terá o verdadeiro pão que alimentará a sua alma, a água que saciará a sua sede espiritual, o mel que o fará enfrentar o mundo sem perder a doçura. Com certeza, em suas palavras você terá a verdadeira bússola da vida!
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém





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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Preciosas lições de uma derrota

 
 
 
Muito já se tratou sobre a última e fragorosa derrota da Seleção Brasileira para o escrete Alemão na Copa do Mundo pelo elástico placar de 7 X 1. Desastre. Vexame. Vergonha. Falou-se, principalmente, que era “um dia para esquecer”, muito embora isso não seja possível. Tanto que uma garotinha de oito anos, sofrendo como as demais crianças brasileiras, ouvindo a repetição dessa frase, emendou: “Como esquecer, se a toda hora só falam nisso?”
De fato, não dá para esquecer, mas dá para tirar algumas preciosas lições. Não quero, porém, me deter sobre possíveis culpados, porque agora isso pouco importa; pois apontar culpados não nos consolará nem fará diminuir a nossa dor. Deixemos isso para os burocratas da bola. Fixemo-nos, portanto, nisso: o que aconteceu virou história, não dá mais para apagar; temos de aprender a conviver com esse fato e tirar dele as lições de que precisamos para seguir em frente.
A primeira grande lição que se pode aprender com uma ruidosa derrota é que, a despeito do baque e da humilhação, a vida continua. Os fracos são aqueles que desistem. Os fortes, depois do atordoamento, após o estado depressivo por ter sido lançado ao chão, sabem que precisam levantar a cabeça e planejar os próximos passos. Ficar revolvendo-se nas cinzas de uma ruína, entregar os pontos, jogar a toalha, desistir de lutar, não importa o clichê que se use, é sempre a pior de todas as escolhas.
É isso que a vida nos ensina. Temos sobejos exemplos de pessoas e também de equipes que superaram grandes perdas porque aprenderam com as derrotas ocasionais (que devem ser apenas isso: ocasionais!) as lições para os embates seguintes e conseguiram tirar força de onde não pensavam que tinham para enfrentar e superar os novos desafios.
Gostaria de evocar o exemplo de um famoso compositor. Filho de pai taberneiro e de mãe fiadora, ele enfrentou muitas adversidades até ser reconhecido como mestre da composição dramática. Embora tenha começado a compor aos nove anos de idade, sua carreira não começou com tanto sucesso. Foi somente no fim da vida que esse reconhecimento lhe foi conferido. Quando jovem, foi rejeitado pelo Conservatório de Milão porque não possuía conhecimento e cultura suficientes.
Depois disso, subitamente sua esposa morre e, posteriormente, seus dois filhos também. Tendo entrado em profunda depressão, num primeiro momento, ele decide abandonar a música para sempre. Mas após dois anos, emerge das sombras e recomeça a compor. Ele obteve tanto sucesso que a sua fama se espalhou pelo mundo. A escola que outrora o rejeitara teve seu nome mudado para Conservatório Verdi de Música.
Refiro-me a Giuseppe Verdi, autor das óperas: Otello, La Traviata, Rigoletto, Il Travatore, Aída, entre outras. Ele tornou-se o maior músico italiano do século XIX. A história de Verdi reflete, em maior ou menor grau, a experiência de muitas pessoas que não se dobraram diante das adversidades, não abandonaram seus sonhos e perseguiram tenazmente suas metas na vida.
       Não é incomum que enganos sejam cometidos a respeito de uma pessoa, ou de uma equipe, achando que acabou, e não mais vencerá. Algumas vezes isso ocorre por ignorância, ou puro ceticismo, ou mera inveja. Alguns, por causa da crítica ácida ou da rejeição temporária, são “abatidos em pleno voo” e, por fim, desistem dos seus sonhos. Outros, por acreditarem que não poderiam viver sem “isso” ou fazendo algo diferente, insistem e vencem. O que de fato diferencia essas pessoas?
Temos aqui outra preciosa lição a ser aprendida. É a nossa resposta, se ação ou reação, que realmente faz diferença no final. Quando reagimos, partimos dos estímulos, e não das nossas convicções. Somos levados na enxurrada de emoções que esses estímulos facultam e a nossa estrutura interior é alterada para responder a esses estímulos. E quase sempre respondemos erradamente, porque partimos não das nossas convicções interiores, mas dos estímulos exteriores.
Porém, quando agimos, partimos do que somos e não do que esses estímulos instam para que o sejamos, e mantemos o senso de equilíbrio interior. Em função de sabermos o que somos e quais convicções próprias temos, recusamo-nos a retribuir injustiça com malevolência, ou incivilidade com maledicência; vencemos o mal com o bem e, assim, nos mantemos senhores de nossa própria conduta.
Fico a pensar sobre o que aconteceria se Jesus tivesse assimilado passivamente a rejeição e dado ouvidos às críticas injustas que recebeu? Onde estaríamos e para onde andaria a humanidade? Jesus foi rejeitado por Seus compatriotas porque estes não achavam que Ele tivesse instrução adequada ou que fosse de “boa família”. Mesmo tendo falado a verdade de forma poderosa e irrefutável, mesmo Suas obras maravilhosas tendo falado por si mesmas, Ele não recebeu o devido reconhecimento. Pedro pediu que Ele desistisse, os fariseus tentaram pará-lo, os romanos o prenderam e o condenaram. Mas Ele seguiu em frente, enfrentando todo tipo de injustiça e a morte. Por fim, Ele ressuscitou, venceu a morte, tendo realizado assim uma eterna salvação para todos aqueles que creem em Seu nome.
       Portanto, agora é hora de levantar a cabeça e seguir em frente. Força Brasil! Avante brasileiros! Portanto, viva os seus sonhos, lute por eles! Nunca desista, faça a sua parte e seja um vencedor! E que Deus nos abençoe!
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém



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sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O tudo ou nada da vida

 
 
 
Agora que a Copa do Mundo entrou na fase mais difícil, conhecida como mata-mata, ou simplesmente eliminatória, cada partida tem de ter o seu vencedor. Se no tempo regulamentar houver empate, parte-se para a prorrogação; e se persistir o empate, as equipes se enfrentam nas penalidades. Tem de haver um vencedor, um único vencedor, até a partida final. Quem ganha, vibra e celebra; quem perde, lamenta e chora. E será assim até que conheçamos a seleção Campeã do Mundo.
Não existe lugar para erros, pois qualquer vacilo, por menor que seja, pode selar a derrota definitiva de uma equipe, não importa o quanto seja melhor do que a outra, ou mesmo se tinha maior volume de jogo, nem se merecia ganhar. É assim na Copa. E a vida tem lá suas semelhanças, quanto temos de lutar contra coisas e circunstâncias à nossa volta.
O certo é que gostamos de ganhar, não importa o quanto nos custe. Mas nem sempre acertamos tudo, às vezes não “jogamos” segundo as regras; nem sempre superamos os obstáculos, às vezes não acertamos o alvo. As nossas escolhas nem sempre são as melhores, e descobrimos que, na vida, existe também o seu tudo ou nada.
Na maioria das vezes, porém, temos de lutar na arena da nossa própria alma, contra as animalidades do nosso caráter, contra as inclinações pecaminosas da nossa natureza caída. E, acima de tudo, temos também de fazer a coisa certa. Algo semelhante a ganhar o sorteio de uma “compra-maluca” em um supermercado – onde tudo é grátis! O ganhador tem uns poucos minutos para pegar o máximo de mercadorias possível. Esgotado o tempo, os itens são contados, e o preço, totalizado.
Suponhamos que, ao começar a marcação do tempo, a pessoa tenha ido direto para os produtos mais caros. Podemos deduzir, então, que ela traçou uma estratégia cuidadosa e sabia exatamente o que queria. Agora, suponhamos que tenha enchido o carrinho com produtos inúteis, por exemplo, caixas vazias de mostruário. O que diriam? “Quanta tolice! Por que não pegou o que era mais caro?”
É exatamente essa imagem que brota para o nosso tempo com a descrição que o profeta Jeremias fez do povo de Israel em sua relação com Deus, muitos séculos atrás. Segundo o profeta, o povo passou os dias acumulando coisas vazias e inúteis. Ou seja: “trocou a sua Glória por aquilo que é de nenhum proveito” (Jr 2.11). Em outras palavras, eles se afastaram de Deus, a fonte de todo o bem, para confiarem em objetos sem nenhum valor.
Jeremias estava se referindo ao fato de Israel abandonar o Senhor e passar a confiar em ídolos que não veem, não falam e nada podem fazer. Isto era para ser motivo de espanto nos céus, diz o profeta: “Espantai-vos disto, ó céus, e horrorizai-vos! Ficai estupefatos, diz o Senhor. Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jr 2.12-13).
Não precisamos voltar tanto na história para constatar que grande tolice é essa atitude. Causa preocupação o fato de não poucas pessoas, ainda hoje, fazerem as mesmas coisas condenadas pelo antigo profeta. São pessoas que agem “como meninos, agitados de um lado para outro e levados ao redor por todo vento de doutrina, pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro” (Ef 4.14). Basta surgir um modismo, uma “pirotecnia” com algum verniz teológico, e lá se vão eles. São como competidores que enchem o carrinho com coisas que não têm nenhum proveito. Ou como jogadores que ganham a Copa da futilidade.
Em vez de colocarem sua confiança no Senhor, confiam no que diz o enganador. Nem se dão conta se sua mensagem está fora de contexto ou em flagrante contradição com a Palavra de Deus. Em lugar de exercerem a fé no que Deus diz, praticam a fé na fé; ou seja: fé em coisas e pessoas, fé em métodos, fé no que podem fazer.
Quando as pessoas são instruídas a confiar em coisas e métodos, elas estão sendo levadas simplesmente à prática religiosa, que diante de Deus não tem nenhum proveito. Usar sal grosso para espantar mau-olhado, colocar um copo de água sobre rádio ou televisão para receber cura, utilizar colete para expulsar encosto, dar dinheiro para receber bênçãos, entre outros, é exercer fé na fé; é prática religiosa. Ao participarem de correntes e campanhas agem como quem tenta vencer Deus pelo cansaço. Isso nada tem a ver com o Evangelho ou com os princípios da fé, conforme expressos nas Escrituras. São apenas escolhas religiosas.
Vejo com pesar muitas pessoas frustradas e machucadas, sentindo-se infelizes porque, mesmo tendo feito tudo, a sua fé parece não funcionar. Vejo muitos espiritualmente esgotados, cansados da própria fé, com medo de confiar em Deus. Como resultado, pesa-lhes ainda a autoacusação contínua de que não creram como deveriam ou que a sua fé é insignificante.
As águas barrentas dessa neo-teologia dos “ganhadores de nada” não satisfazem a sede. A esses, serve o que Jesus diz: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna” (Jo 4.13-14).
No tudo ou nada da vida, aprenda a confiar somente na Palavra de Deus, pois só assim poderá dizer: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém






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quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Vergonha pra que te quero...

 
 
 
A Copa do Mundo está em pleno andamento e as previsões catastróficas sob o epíteto do “Imagina na Copa” não se confirmaram. As manifestações contrárias, até agora, foram pífias. E os ensaios de quem desejaria desabafar com o despudorado “tenho vergonha de ser brasileiro” não encontrou ainda o seu respaldo nem audiência que o valha. Os turistas, que muitos esperavam passar pitos de reclamações bem fundamentadas pelos maus serviços públicos disponíveis, esses parecem não ligar e se mostram até mesmo mais alegres que os anfitriões brasileiros.
Nada disso, porém, faz desaparecer os problemas por demais conhecidos, nem exime as autoridades de suas responsabilidades, tampouco esvanece a justeza das reclamações emanadas do povo contra a incompetência das autoridades públicas diante dos problemas nacionais. Ademais, jamais deverá obscurecer a capacidade virtuosa de colocar a nossa vergonha na cara a serviço de alguma coisa boa e proveitosa.
Se o Brasil ganhar a Copa, sua vergonha diminuirá de importância? Se perder, aumentará? Se você não liga, deveria pelo menos questionar a motivação da sua propalada vergonha. Isto porque vergonha na cara não é somente um artigo raro, é também inerente aos cidadãos de bem. 
Na opinião de Capistrano de Abreu, a Constituição Federal deveria conter apenas dois artigos. Primeiro: “Todo brasileiro deve ter vergonha na cara”. Segundo: “Revogam-se as disposições em contrário.” Mas pergunta-se: Vergonha para quê?
Rui Barbosa, em discurso no Senado Federal, em 17 de dezembro de 1914, declarou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
Rui Barbosa fez este desabafo ao defender o requerimento sobre uma chacina de presos conhecida como “Caso Satélite”. A impunidade dos assassinos confessos, depois de quase quatro anos decorridos do crime, o motivou a fazer esse inflamado discurso. O que tinha de observação do cotidiano, seu discurso tinha também de profético. Pois ainda hoje, decorrido quase um século, a impunidade no Brasil perdura e recrudesce. Isso não e novidade, é apenas o reflexo da continuidade do triunfo das nulidades, da prosperidade da desonra, do crescimento da injustiça e do agigantamento do poder nas mãos dos maus.
Essa total inversão de valores não seria, hoje, o princípio que subjaz nos famigerados casos de corrupção no Congresso Nacional? Ora, não estaria isso também entranhado em outros setores da vida nacional?
Quando homens públicos procedem na contramão da honra, agem como quem acredita que não é o cachorro que abana o rabo, mas o rabo abana o cachorro. Felizmente a sociedade tem instrumentos para reciclar-se e fazer incisões eleitoralmente cirúrgicas para extirpar esses “apêndices” supurados de sem-vergonhice.
Mas esse não é o problema maior, que são os danos que suas posturas despudoradas e infames causam nas pessoas de bem, as que são interiormente susceptíveis de desânimo crônico.
O desânimo quanto ao exercício da virtude faz com que cidadãos, incapazes de sujar suas casas, joguem lixo nas ruas; faz com que cidadãos, incapazes de furar uma fila de banco, permitam-se a levar vantagem e passar na frente dos carros que estão enfileirados num retorno de pista única; faz com que cidadãos, mesmo tratando bem seus pais e filhos, não estendem o mesmo tratamento a velhos e crianças desconhecidos — antes, não lhes dão o lugar num coletivo lotado, não lhes cedem seu lugar na fila, não lhes dão prioridade na passagem de um cruzamento.
O mau exemplo é contagioso. Um atleta famoso, pelo simples desejo de ganhar mais dinheiro, se torna garoto propaganda de bebida alcoólica. É lícito, mas não convém. Pois fatalmente será responsável pelo descaminho de tantos garotos que, mirando-se no seu anunciado “exemplo”, no máximo se transformarão em bêbados contumazes.
A despeito de qualquer coisa errada ou fora de lugar, não desista nem desanime da virtude. Ainda que debochem de quem devolve o dinheiro achado, continue fazendo a coisa certa; ainda há quem devolva. Ainda que desdenhem de alguém ser gentil com uma mulher e abrir-lhe a porta do carro, mantenha a sua educação; ainda há que abra portas para mulheres. Ainda que desdenhem de quem é honesto e não se vende, mantenha a esperança; ainda há pessoas que não têm preço. Ainda que filhos ingratos desrespeitem e não honrem os próprios pais, seja fiel em cumprir o mandamento de Deus; ainda há quem o faça. 
Honestidade é virtude, mas é também obrigação. Por isso, não tenha vergonha de ser honesto, pois é seu dever. Tenha, antes, vergonha dos desonestos. Quem sabe, um dia se toquem de que o tempo deles passou, pois a própria História os varrerá para debaixo do tapete de suas insignificâncias.
Não tenha vergonha de pertencer à Igreja de Jesus, tenha antes vergonha daqueles que, semeando divisão e motivados pelo desejo de dominação do rebanho de Deus, envergonham a Cristo.
Constantemente lê-se sobre algum cidadão dizendo-se com “vergonha de ser brasileiro”. Mas não tenha vergonha de ser brasileiro; tenha, antes, vergonha dos brasileiros que não têm vergonha na cara.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Quando ninguém mais está olhando

 
 
 
Há muitos que acreditam que as pessoas, em geral, são moralmente boas, mesmo sem correr o risco de punição se não o forem. Esses humanistas podem ser chamados de discípulos tardios de Sócrates, que ensinava tal doutrina. O filósofo Platão, embora se considerasse discípulo de Sócrates, em seu livro A República apresenta uma contra-argumentação que um suposto aluno de nome Glauco fizera em resposta a esse aspecto da moral. Para tal discordância filosófica Platão deu o título de O Anel de Gyges.
Gyges, o personagem principal dessa história, era um pastor de ovelhas a serviço do rei Candaules de Lydia. Após um terremoto, Gyges encontra uma caverna na montanha, onde havia um túmulo com um cadáver que usava um anel. Quando coloca o anel em seu próprio dedo, Gyges percebe que o anel o torna invisível. Gyges arranja então para ser escolhido como funcionário da corte e usa o seu poder de invisibilidade para seduzir a rainha. Com a ajuda desta, assassina o rei e torna-se ele próprio rei de Lydia, além de praticar de travessuras infantis a crimes medonhos.
Platão usa a fábula de Glauco como um condão filosófico para levantar uma importante questão moral, posta desta forma: sem ninguém para monitorar o seu comportamento, quem seria capaz de resistir à tentação do mal? Se soubesse que seus atos não seriam testemunhados, você respeitaria a dignidade do outro, sua intimidade, seus segredos, sua liberdade, sua propriedade, sua vida? Portanto, como você procede quando ninguém está olhando?
Os discípulos de Gyges estão em toda parte, pois quando ninguém está olhando, muitas coisas acontecem que fazem abalar os pilares da moralidade e da ética.
Quando ninguém está olhando... Deputados e senadores se aproveitam e usam indiscriminadamente jatos da Força Aérea para suas viagens particulares... Parlamentares são comprados para facilitar a aprovação de matérias que favorecem o governo... Funcionários públicos recebem propina para facilitar a escolha de empresas em licitação marcada... Obras públicas cujas licitações foram aprovadas por valores mínimos de mercado recebem inúmeros aditivos e se tornam dez vezes mais caras... É comprada uma refinaria americana com um ágio de mais de oitocentos por cento em relação ao preço de venda de um ano antes, isso se transforma depois num prejuízo bilionário, e ainda tem gente no governo dizendo que foi um bom negócio.
Quando ninguém está olhando... Um membro do Conselho de Ética do PT faz ameaças de morte ao Presidente do Supremo Tribunal Federal julgando-se protegido pelo anonimato da internet... O cidadão comum oferece suborno a um guarda de trânsito para escapar de uma multa... Alunos relapsos e preguiçosos que se julgam “espertos” compram gabaritos de provas de concursos vestibulares... Juízes e parlamentares nepotistas burlam a lei ao fazerem o cruzamento de contratação de seus parentes... Policiais corruptos aterrorizam e matam algum desafeto... Religioso pedófilo abusa sexualmente de menores que deveria proteger.
Algum desses personagens faria as mesmas coisas se soubesse que seria apanhado? Até que ponto essa lassidão moral nas esferas superiores da liderança pode se espalhar por toda a sociedade?
De modo geral, não se pode negar que um dos incentivos para alguém infringir uma lei ou regra moral repousa na crença de que outros também a violam, ou que “todo mundo faz”. As pessoas parecem estar convencidas de que, se todo mundo age de determinada maneira, mesmo que ilegal, elas também podem. A lógica é essa: se todo mundo faz, então que mal há se eu o fizer também? O agravante é muito maior quando o mau exemplo vem de líderes que supostamente deveriam zelar pela moral e pelos bons costumes.
Por outro lado, há os que apoiam com o seu exemplo a visão socrática da vida, de que as pessoas, em geral, são boas mesmo sem correr o risco de punição se não o forem.
Por isso, quando ninguém está olhando... Taxista devolve ao usuário o pacote deixado em seu veículo... Zelador devolve uma carteira abarrotada de dinheiro a quem a perdeu... Funcionário público não se deixa subornar... Deputado vota segundo a sua consciência e faz prevalecer o decoro parlamentar... Juiz íntegro julga segundo a reta justiça... Policial correto zela pela lei e ordem... O cidadão comum faz o bem sem olhar a quem.
Andar em retidão é o dever de cada cidadão, mesmo quando ninguém está olhando. Quanto ao crente em Jesus, este sabe que deve fazer o que é certo, não para ser visto “como para agradar a homens, mas como servo de Cristo, fazendo, de coração, a vontade de Deus”; e também está ciente “de que cada um, se fizer alguma coisa boa, receberá isso outra vez do Senhor” (Ef 6.6).
Acima de tudo, porém, temos de pensar que há um Deus que tudo vê: “Porque os meus olhos estão sobre todos os seus caminhos; ninguém se esconde diante de mim, nem se encobre a sua iniquidade aos meus olhos” (Jr 16.17). “Os meus olhos procurarão os fiéis da terra, para que habitem comigo; o que anda em reto caminho, esse me servirá” (Sl 101.6).
Mesmo quando parece que ninguém mais está olhando, prossiga em fazer o bem e seja correto, pois nisso há uma grande recompensa. Faça a coisa certa!
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém


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terça-feira, 29 de julho de 2014

Um mundo melhor para todos
 
  
 
 
      O Dia do Trabalho, hoje em dia, é uma festa, com shows e apresentações artísticas as mais diversas, bancadas pelas endinheiradas centrais sindicais, além das benesses de um feriadão para se fazer de tudo, menos trabalhar. Mas talvez a maioria dos trabalhadores não saiba, o Dia do Trabalho foi criado em 1889, em Paris, em memória dos mártires de Chicago, das reivindicações operárias que ocorreram ali três anos antes, e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores por seus direitos trabalhistas.
       Chicago era o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época. No dia 1º de Maio de 1886, milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as injustas e desumanas condições de trabalho a que eram submetidos. Naquela época, os trabalhadores sofriam maus tratos, a jornada diária de trabalho era de até 16 horas, havia exploração do trabalho infantil, as pessoas eram tratadas de modo muito pior do que os animais, entre outras inomináveis mazelas.
       Como os operários não podiam simplesmente deixar de trabalhar, resolveram lutar pelo direito de um trabalho mais digno e justo, exigindo principalmente a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Naquele fatídico dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi extremamente dura: houve prisões, feridos e até mesmo dezenas de mortos nos confrontos entre os operários e a polícia.
      Na mente dos ricos e poderosos da época, os quais detinham o poder dos meios de produção, decerto havia o entendimento de que o ato de trabalhar, em si só, continha uma indefectível maldição divina, portanto, os operários não precisavam da garantia de mais direitos, somente os parcos salários com os quais mantinham uma vida miserável e sem futuro. Os ricos e afortunados, esses sim, eram os abençoados, não precisavam trabalhar; só os pobres o faziam, e em condições insalubres, desumanas e injustas.
       Com o passar dos anos, a tendência natural é que as gerações seguintes desconheçam as conquistas alcançadas pelas gerações passadas. Cai-se na clássica definição da máxima: “Quem não tem história, não tem identidade”. O ônus disso é muito pesado, pois quando uma geração não sabe avaliar o preço que foi pago pela conquista de valores e direitos das gerações anteriores, faltar-lhe-á a identidade que lhe fornecerá a honra de lutar contra as novas injustiças de seu tempo. Os danos disso serão inomináveis, a não ser que, de geração para geração, lutas e triunfos sejam contados e recontados, de tal modo que as veias da história não contenham nenhuma placa de ignorância a enfartar o caminho da vida.
      Quando se observam as comemorações atuais do Dia do Trabalho, como na quinta-feira passada, temos a impressão, paradoxalmente, de que o mesmo foi instituído tão somente para o exercício da ociosidade e das festividades sem nenhum compromisso social que o valha. Desse modo, parece ter perdido o caráter reivindicatório e de protesto de suas origens. Além disso, ofusca toda a gratidão devida aos trabalhadores pelas conquistas alcançadas, e a Deus, pela bênção do próprio trabalho digno. Tudo muito diferente do que supostamente deveria ser.
      O plano de Deus, como descrito na Bíblia, é que todas as pessoas sejam abençoadas em obter um trabalho digno e possam viver dos seus ganhos. Quando da Criação, Deus colocou o casal no Jardim do Éden “para o cultivar e o guardar”, isto é, para “trabalhar” na sua conservação e dele obter a provisão para suas necessidades (Gn 2.15). Infelizmente, alguns interpretam o texto bíblico da Criação de um modo reducionista, como se a ordem de Deus — “no suor do rosto comerás o teu pão” — fosse uma maldição em consequência da queda. Por causa disso, desenvolveu-se toda uma concepção do trabalho como castigo ou pena a ser cumprida.
      Todavia, o plano original de Deus era a possibilidade de o ser humano ser cooperador com Ele na conservação da natureza e na produção de cultura. Nisso o ato de trabalhar esconde uma indizível beleza e demonstra uma maravilhosa bênção.
       O trabalho só não é bênção quando utilizado como instrumento de exploração do outro, quando usado como meio para obter lucros e vantagens obscenas à custa do esforço alheio, e quando a ganância e a cobiça destroem as vidas e aniquilam os sonhos de uma grande maioria que depende do trabalho para sobreviver. Mas Deus está de olho (Tg 5.4).
      O trabalho deve ser fonte de bênção, não de agonia. Dizem que o trabalho espanta três males: o vício, a pobreza e o tédio. Sem trabalho a vida perde o sentido e o brilho. A Bíblia diz: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. Vi também que isto vem da mão de Deus” (Ec 2.24). Assim, todos os dias são do trabalho, ou melhor, de trabalho. Sem trabalho, sem vida.
       Oro a Deus para que nunca nos falte trabalho e que o mesmo seja uma verdadeira bênção para nós e nossa família. E que possamos agradecer a Deus pela oportunidade que Ele nos concedeu de trabalhar e ajudá-lo a construir um mundo melhor para todos.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

Publicação Domingos T. Costa