terça-feira, 29 de julho de 2014

Um mundo melhor para todos
 
  
 
 
      O Dia do Trabalho, hoje em dia, é uma festa, com shows e apresentações artísticas as mais diversas, bancadas pelas endinheiradas centrais sindicais, além das benesses de um feriadão para se fazer de tudo, menos trabalhar. Mas talvez a maioria dos trabalhadores não saiba, o Dia do Trabalho foi criado em 1889, em Paris, em memória dos mártires de Chicago, das reivindicações operárias que ocorreram ali três anos antes, e por tudo o que esse dia significou na luta dos trabalhadores por seus direitos trabalhistas.
       Chicago era o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época. No dia 1º de Maio de 1886, milhares de trabalhadores foram às ruas para protestar contra as injustas e desumanas condições de trabalho a que eram submetidos. Naquela época, os trabalhadores sofriam maus tratos, a jornada diária de trabalho era de até 16 horas, havia exploração do trabalho infantil, as pessoas eram tratadas de modo muito pior do que os animais, entre outras inomináveis mazelas.
       Como os operários não podiam simplesmente deixar de trabalhar, resolveram lutar pelo direito de um trabalho mais digno e justo, exigindo principalmente a redução da jornada de trabalho para oito horas diárias. Naquele fatídico dia, manifestações, passeatas, piquetes e discursos movimentaram a cidade. Mas a repressão ao movimento foi extremamente dura: houve prisões, feridos e até mesmo dezenas de mortos nos confrontos entre os operários e a polícia.
      Na mente dos ricos e poderosos da época, os quais detinham o poder dos meios de produção, decerto havia o entendimento de que o ato de trabalhar, em si só, continha uma indefectível maldição divina, portanto, os operários não precisavam da garantia de mais direitos, somente os parcos salários com os quais mantinham uma vida miserável e sem futuro. Os ricos e afortunados, esses sim, eram os abençoados, não precisavam trabalhar; só os pobres o faziam, e em condições insalubres, desumanas e injustas.
       Com o passar dos anos, a tendência natural é que as gerações seguintes desconheçam as conquistas alcançadas pelas gerações passadas. Cai-se na clássica definição da máxima: “Quem não tem história, não tem identidade”. O ônus disso é muito pesado, pois quando uma geração não sabe avaliar o preço que foi pago pela conquista de valores e direitos das gerações anteriores, faltar-lhe-á a identidade que lhe fornecerá a honra de lutar contra as novas injustiças de seu tempo. Os danos disso serão inomináveis, a não ser que, de geração para geração, lutas e triunfos sejam contados e recontados, de tal modo que as veias da história não contenham nenhuma placa de ignorância a enfartar o caminho da vida.
      Quando se observam as comemorações atuais do Dia do Trabalho, como na quinta-feira passada, temos a impressão, paradoxalmente, de que o mesmo foi instituído tão somente para o exercício da ociosidade e das festividades sem nenhum compromisso social que o valha. Desse modo, parece ter perdido o caráter reivindicatório e de protesto de suas origens. Além disso, ofusca toda a gratidão devida aos trabalhadores pelas conquistas alcançadas, e a Deus, pela bênção do próprio trabalho digno. Tudo muito diferente do que supostamente deveria ser.
      O plano de Deus, como descrito na Bíblia, é que todas as pessoas sejam abençoadas em obter um trabalho digno e possam viver dos seus ganhos. Quando da Criação, Deus colocou o casal no Jardim do Éden “para o cultivar e o guardar”, isto é, para “trabalhar” na sua conservação e dele obter a provisão para suas necessidades (Gn 2.15). Infelizmente, alguns interpretam o texto bíblico da Criação de um modo reducionista, como se a ordem de Deus — “no suor do rosto comerás o teu pão” — fosse uma maldição em consequência da queda. Por causa disso, desenvolveu-se toda uma concepção do trabalho como castigo ou pena a ser cumprida.
      Todavia, o plano original de Deus era a possibilidade de o ser humano ser cooperador com Ele na conservação da natureza e na produção de cultura. Nisso o ato de trabalhar esconde uma indizível beleza e demonstra uma maravilhosa bênção.
       O trabalho só não é bênção quando utilizado como instrumento de exploração do outro, quando usado como meio para obter lucros e vantagens obscenas à custa do esforço alheio, e quando a ganância e a cobiça destroem as vidas e aniquilam os sonhos de uma grande maioria que depende do trabalho para sobreviver. Mas Deus está de olho (Tg 5.4).
      O trabalho deve ser fonte de bênção, não de agonia. Dizem que o trabalho espanta três males: o vício, a pobreza e o tédio. Sem trabalho a vida perde o sentido e o brilho. A Bíblia diz: “Nada há melhor para o homem do que comer, beber e fazer que a sua alma goze o bem do seu trabalho. Vi também que isto vem da mão de Deus” (Ec 2.24). Assim, todos os dias são do trabalho, ou melhor, de trabalho. Sem trabalho, sem vida.
       Oro a Deus para que nunca nos falte trabalho e que o mesmo seja uma verdadeira bênção para nós e nossa família. E que possamos agradecer a Deus pela oportunidade que Ele nos concedeu de trabalhar e ajudá-lo a construir um mundo melhor para todos.
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém

Publicação Domingos T. Costa

Nenhum comentário: