terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

Fazendo diferença entre os indiferentes




 
 
 Uma jovem cristã recém-convertida estava lendo os evangelhos. Quando terminou, disse a seu professor da Escola Bíblica que estaca com uma grande vontade de ler um livro sobre a história da Igreja. Quando o professor lhe perguntou a razão desse grande interesse, a jovem respondeu: “Estou muito curiosa. Queria saber quando os cristãos começaram a ser tão diferentes de Jesus Cristo”.
A perplexidade daquela jovem não nos deve causar estranheza, uma vez que existe realmente uma grande disparidade entre a vida de Cristo e a vida de muitas pessoas que proclamam o Seu nome e se identificam como Seus seguidores, quer sejam chamadas de “cristãos” ou simplesmente “crentes”.  A decorrência óbvia desse fato inconteste é: quanto mais diferente de Jesus Cristo um seguidor Seu se parece, tão mais indiferente à Sua mensagem se tornará e, consequentemente, menos diferença fará no mundo.
Mas quem disse que o cristão tem que ser diferente? Quem se importa que o crente faça diferença no mundo dos indiferentes? A resposta é: Jesus! É exatamente isso que Jesus Cristo espera de Seus discípulos. O primeiro problema, certamente, é que nem todos os que se dizem cristãos ou crentes são verdadeiramente discípulos de Cristo; antes, professam apenas uma religião.
Jesus disse a Seus discípulos: “Vós sois o sal da terra... Vós sois a luz do mundo” (Mt 5.13,14). Isto é uma verdade da qual não se pode fugir, pois faz parte da própria natureza do seguidor de Jesus. A ordem colocada por Jesus, de que um discípulo Seu é primeiro sal e depois luz, tem uma razão de ser. O sal fala do que somos. A luz, do que fazemos. Uma coisa sem a outra é a sua própria negativa.
Como o sal é diferente do material sobre o qual é aplicado, o cristão tem de ser diferente das pessoas do mundo. Como uma pequena quantidade de sal faz uma enorme diferença, um único discípulo também pode fazê-lo. O mundo é essencialmente pecaminoso e mau, semelhante a um pedaço de carne que tende à putrefação. A função do sal é agir como um antisséptico, um transmissor de vida, saúde e preservação, funcionando como impedimento da atuação dos agentes que produzem a putrefação.
Além disso, o sal dá sabor. Sem a presença de Cristo no cristão, e deste no mundo, a vida inteira se tornaria insípida, perderia o sabor. As pessoas do mundo buscam sofregamente os prazeres pecaminosos, mas, ao mesmo tempo, sentem que a vida é enfadonha, sem sentido e sem graça. É por isso que o prazer, nessa perspectiva, vem sempre acompanhado de alguma droga que o potencialize. O seguidor de Jesus, ao contrário, pela sua fé na Palavra de Cristo, carrega em seu coração a fonte da vida, não precisa de droga nenhuma nem de qualquer agenciamento do pecado para ter prazer ou se sentir alegre e realizado.
A despeito de todo o conhecimento científico acumulado, o mundo não se tornou mais “iluminado”; antes, suas trevas continuam cada vez mais espessas. Por isso é que precisa desesperadamente da luz que emana de Jesus e é refletida a partir de cada discípulo Seu.
O primeiro efeito da luz é dissipar as trevas. Desse modo, a presença do discípulo de Jesus faz as pessoas tomarem consciência das trevas espirituais em que se encontram. A luz também explica as causas das trevas. O cristão, ao viver como luz, deixa patente o quanto as pessoas estão distantes e alienadas de Deus. Assim como a luz é inevitável, o seguidor de Jesus, por viver uma vida “diferente”, não pode deixar de ser notado, pois “não se pode esconder a cidade edificada sobre um monte”.
Como sal da terra, o discípulo de Jesus exerce uma influência de aspecto geral, que tem a ver com a vida toda, pois o seu modo de viver contrasta, por sua excelência, a influência do mal. É uma ação “controladora”, no sentido de que preserva e dá sabor. Como luz, sua influência é mais específica. Quando as pessoas constatarem que há “algo diferente” naquele que segue a Cristo, então quererão saber o motivo. Desse modo, cada discípulo pode se destacar como elemento iluminador, pode falar da excelência da vida cristã e ensiná-las a viver uma vida abundante centrada em Cristo.
A vida do crente em Jesus sempre ofereceu motivos de sobra para o mundo estranhar, seja por seu comportamento diferenciado, ou por suas afirmações verbais a respeito da certeza de salvação eterna. Não é à toa que as pessoas, inclusive não poucos que se intitulam de cristãos, se indignam quando um crente em Jesus se diz “salvo”. Igualmente, é surpreendente o “incômodo” que a presença de um cristão fiel a Jesus causa nos ambientes que frequenta. Se um grupo costuma falar obscenidades, as pessoas se calam ou mudam de assunto à sua chegada, mesmo que este não diga palavra alguma.
Se alguém se diz cristão, mas não age como sal e luz, então é mais provável que cristão não seja. Tentar inverter as coisas, tentar ser primeiro luz sem ser sal, isto é, pregar sem viver, dá na mesma situação que alguém disse a um certo “cristão” nominal: “O que vives fala tão alto que não consigo ouvir o que pregas”.
Assim, quanto mais parecido com Jesus Cristo um cristão se torna, tão mais obediente à Sua mensagem será e, consequentemente, maior diferença fará no mundo.
 
 
 
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém




Publicação:
D.T.C.




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domingo, 8 de fevereiro de 2015

Conhecendo o Deus que nos conhece




Uma das principais razões de existência da Igreja é tornar o Deus Todo-poderoso conhecido através da pregação do Evangelho, de modo que as pessoas possam manter um relacionamento saudável com este mesmo Deus que pode tudo, está em todo lugar e sabe de todas as coisas e, portanto, nos conhece profunda e intimamente. E isto a Igreja tem de fazer inteiramente de graça, como disse Jesus: “Dai de graça o que de graça recebeste”.
Por isso, parece um absurdo que, em nossos dias, esteja tão em voga todos os tipos de negociatas em nome de Deus, encabeçadas por pessoas que se autodenominam “apóstolo” ou “bispo” ou “pastor” ou “missionário”. Algumas são tão explícitas, como no exemplo de quem tenta vender bênçãos, cuja finalidade é simplesmente auferir lucro financeiro e enriquecimento fácil; e outras nem tanto, mas igualmente perniciosas, dos que infundem as mais diversas fobias e intimidações em nome de Deus, tão somente para manter os “contribuintes” presos a seus grupos religiosos. Esses líderes são capazes de tirar o último centavo dos incautos, mesmo depois esbravejando que o recebimento da bênção dependa exclusivamente da sua cambaleante fé. Se a pessoa não recebeu nada, então é porque a sua fé foi simplesmente fraca ou meramente insuficiente.
Esse tipo de joguete com Deus e com a boa fé das pessoas só prospera porque há um “mercado” crescente de pessoas carentes e frustradas, financeiramente quebradas e espiritualmente desamparadas, que anseiam mudar de vida, mesmo que tenham de pagar caro por isso. Essas pessoas acham que tudo se resolve por meio da oração de um suposto “ungido” e de uma simples troca de favores com Deus, um “toma-lá-dá-cá” que as habilita a ser abençoadas. O fato é que muitas pessoas esquecem que não se pode colocar Deus numa caixinha e manipulá-lo. Elas se esquecem de que Deus mostra ao mundo o Seu poder sobrenatural conforme a Sua própria vontade, não a nossa.
Não é só um erro grotesco fazer negociata de qualquer tipo com Deus, é algo muito mais grave: é brincar com Deus, é demonstrar que não o conhece. Você pode imaginar o Senhor Jesus, ou os apóstolos, prometendo bênção às pessoas em troca de uma contribuição para seus ministérios? Jesus dizia: “De graça recebestes, de graça daí” (Mt 10.8). Paulo afirmava: “Gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus” (2Co 11.7).
Há alguns anos, tomei conhecimento a respeito de um ministro que prometia as bênçãos de Deus a quem estivesse interessado a pagar por elas. Por incrível que pareça, ele oferecia bênçãos divinas por um valor fixo anual, ou parcelado em doze prestações mensais. Se a pessoa viesse a confirmar que suas orações já haviam trazido recompensas financeiras, aquele “ungido” prometia enviar um “Certificado de Bênção”, após receber o primeiro pagamento; e uma “carteira ungida”, com o segundo pagamento. Vale ressaltar que nesse negócio não havia “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”.
Alguns estão dispostos a pagar algum dinheiro para obter bênçãos. Outros pagam de outros modos. Há um número considerável de crentes sinceros e dispostos a crer que se obedecer a Deus completamente – só porque um suposto “homem de Deus” fala “em nome de Deus” –, então o resultado será uma vida mais tranquila, ou mais próspera. E quando assim ocorre, isso é a prova final de que estão cumprindo a vontade de Deus.
Do contrário, se enfrentam obstáculos, ficam propensos a concluir que em suas atitudes corriqueiras não estão cumprindo a vontade de Deus. Em vez de questionarem seus parâmetros, questionam a sua dedicação e, às vezes, a sua própria fé; e quando ficam mais adoecidas ainda, questionam até o próprio Deus.
É um erro acreditar que se alguém obedece a Deus tudo dará certo na sua vida. Deus não remove as dificuldades; antes, as usa para o nosso bem e para Sua glória. Na verdade, servir a Deus significa “andar com Ele”, mesmo quando as coisas dão erradas. Foi o que descobriu o profeta Habacuque que, a despeito das dificuldades enfrentadas, não deixou de confiar no caráter de Deus (Hc 3.17-19). De fato, “sabemos que todas as coisas – boas ou más – cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Saiba que uma coisa é ouvir falar de Deus. Outra é conhecê-lo pessoalmente. Saber que Deus está presente em todo lugar pode ser estarrecedor. Mas estar consciente de Sua presença conosco quando precisamos nos dá conforto e esperança. Pensar que Deus conhece tudo não deixa de ser assustador. Mas saber que nenhum detalhe da nossa vida escapa de Sua amável atenção, nos permite desfrutar a paz que resiste a toda e qualquer provação. Imaginar que Deus pode tudo nos deixa maravilhados com Sua grandeza. Mas confiar que este mesmo Deus opera em nós e através de nós, e sempre para o nosso bem, tem o condão de nos encorajar a descansar confiantemente em Seus braços poderosos.
O mais importante é saber que tudo isso é conquistado mediante a graça de Deus que nos foi revelada através de Jesus Cristo. Pela graça, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1). Sendo assim, jamais brinque com Deus; mas procure conhece-lo e amá-lo, servindo-o com fidelidade, sem nenhuma pressão e sem preço algum. E a sua vitória virá no tempo de Deus!


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém





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