Uma das principais razões de existência da Igreja é tornar o Deus Todo-poderoso conhecido através da pregação do Evangelho, de modo que as pessoas possam manter um relacionamento saudável com este mesmo Deus que pode tudo, está em todo lugar e sabe de todas as coisas e, portanto, nos conhece profunda e intimamente. E isto a Igreja tem de fazer inteiramente de graça, como disse Jesus: “Dai de graça o que de graça recebeste”.
Por isso, parece um absurdo que, em nossos dias, esteja tão em voga todos os tipos de negociatas em nome de Deus, encabeçadas por pessoas que se autodenominam “apóstolo” ou “bispo” ou “pastor” ou “missionário”. Algumas são tão explícitas, como no exemplo de quem tenta vender bênçãos, cuja finalidade é simplesmente auferir lucro financeiro e enriquecimento fácil; e outras nem tanto, mas igualmente perniciosas, dos que infundem as mais diversas fobias e intimidações em nome de Deus, tão somente para manter os “contribuintes” presos a seus grupos religiosos. Esses líderes são capazes de tirar o último centavo dos incautos, mesmo depois esbravejando que o recebimento da bênção dependa exclusivamente da sua cambaleante fé. Se a pessoa não recebeu nada, então é porque a sua fé foi simplesmente fraca ou meramente insuficiente.
Esse tipo de joguete com Deus e com a boa fé das pessoas só prospera porque há um “mercado” crescente de pessoas carentes e frustradas, financeiramente quebradas e espiritualmente desamparadas, que anseiam mudar de vida, mesmo que tenham de pagar caro por isso. Essas pessoas acham que tudo se resolve por meio da oração de um suposto “ungido” e de uma simples troca de favores com Deus, um “toma-lá-dá-cá” que as habilita a ser abençoadas. O fato é que muitas pessoas esquecem que não se pode colocar Deus numa caixinha e manipulá-lo. Elas se esquecem de que Deus mostra ao mundo o Seu poder sobrenatural conforme a Sua própria vontade, não a nossa.
Não é só um erro grotesco fazer negociata de qualquer tipo com Deus, é algo muito mais grave: é brincar com Deus, é demonstrar que não o conhece. Você pode imaginar o Senhor Jesus, ou os apóstolos, prometendo bênção às pessoas em troca de uma contribuição para seus ministérios? Jesus dizia: “De graça recebestes, de graça daí” (Mt 10.8). Paulo afirmava: “Gratuitamente vos anunciei o evangelho de Deus” (2Co 11.7).
Há alguns anos, tomei conhecimento a respeito de um ministro que prometia as bênçãos de Deus a quem estivesse interessado a pagar por elas. Por incrível que pareça, ele oferecia bênçãos divinas por um valor fixo anual, ou parcelado em doze prestações mensais. Se a pessoa viesse a confirmar que suas orações já haviam trazido recompensas financeiras, aquele “ungido” prometia enviar um “Certificado de Bênção”, após receber o primeiro pagamento; e uma “carteira ungida”, com o segundo pagamento. Vale ressaltar que nesse negócio não havia “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”.
Alguns estão dispostos a pagar algum dinheiro para obter bênçãos. Outros pagam de outros modos. Há um número considerável de crentes sinceros e dispostos a crer que se obedecer a Deus completamente – só porque um suposto “homem de Deus” fala “em nome de Deus” –, então o resultado será uma vida mais tranquila, ou mais próspera. E quando assim ocorre, isso é a prova final de que estão cumprindo a vontade de Deus.
Do contrário, se enfrentam obstáculos, ficam propensos a concluir que em suas atitudes corriqueiras não estão cumprindo a vontade de Deus. Em vez de questionarem seus parâmetros, questionam a sua dedicação e, às vezes, a sua própria fé; e quando ficam mais adoecidas ainda, questionam até o próprio Deus.
É um erro acreditar que se alguém obedece a Deus tudo dará certo na sua vida. Deus não remove as dificuldades; antes, as usa para o nosso bem e para Sua glória. Na verdade, servir a Deus significa “andar com Ele”, mesmo quando as coisas dão erradas. Foi o que descobriu o profeta Habacuque que, a despeito das dificuldades enfrentadas, não deixou de confiar no caráter de Deus (Hc 3.17-19). De fato, “sabemos que todas as coisas – boas ou más – cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Saiba que uma coisa é ouvir falar de Deus. Outra é conhecê-lo pessoalmente. Saber que Deus está presente em todo lugar pode ser estarrecedor. Mas estar consciente de Sua presença conosco quando precisamos nos dá conforto e esperança. Pensar que Deus conhece tudo não deixa de ser assustador. Mas saber que nenhum detalhe da nossa vida escapa de Sua amável atenção, nos permite desfrutar a paz que resiste a toda e qualquer provação. Imaginar que Deus pode tudo nos deixa maravilhados com Sua grandeza. Mas confiar que este mesmo Deus opera em nós e através de nós, e sempre para o nosso bem, tem o condão de nos encorajar a descansar confiantemente em Seus braços poderosos.
O mais importante é saber que tudo isso é conquistado mediante a graça de Deus que nos foi revelada através de Jesus Cristo. Pela graça, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1). Sendo assim, jamais brinque com Deus; mas procure conhece-lo e amá-lo, servindo-o com fidelidade, sem nenhuma pressão e sem preço algum. E a sua vitória virá no tempo de Deus!
Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
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