sexta-feira, 22 de maio de 2015

A Reforma de que precisamos

 
 
 
 
Um obscuro monge chamado Martinho Lutero, em 31 de outubro de 1517, afixou um documento composto de 95 teses na porta da Catedral de Wittemberg, na Alemanha, no qual conclamava a Igreja a voltar à obediência da Palavra de Deus e às práticas evangélicas da Igreja Primitiva, conforme constam nas Sagradas Escrituras. Esse evento simples, normalmente utilizado por aqueles que queriam discutir publicamente alguma proposta acadêmica de cunho bíblico ou teológico, tomou um volume descomunal, até que desencadeou o que conhecemos historicamente como a Reforma Protestante.
Ressalvo que não tenho a pretensão de polemizar com os cristãos católicos, a quem respeito e amo no amor de Jesus. Mas gostaria de considerar, com a ênfase que o caso requer, que a Reforma só aconteceu porque a Igreja estava espiritualmente em decadência, pois se distanciara muito da pureza do Evangelho. Naquele tempo, a Igreja preocupava-se mais com as questões políticas e econômicas do que com os assuntos espirituais; ao buscar aumentar ainda mais suas riquezas, vendia indulgências, cargos eclesiásticos e relíquias, tudo como forma de os fiéis adquirirem bênçãos.
A Igreja exercia um controle absoluto sobre os cidadãos, criando e manipulando dogmas que instilavam medo nas pessoas, influenciava governos, controlava a vida de todos. Até que veio a Reforma...
Agora, passados quase quinhentos anos da Reforma Protestante, não seria precipitado afirmar que, em muitos aspectos, precisamos de uma Reforma na Igreja evangélica, que se entende como filha e herdeira da Reforma. Observe-se a atual situação da Igreja evangélica e a pouca influência que produz na sociedade. Basta olhar a situação do Brasil para constatar que falta luz nas densas trevas morais e falta sal para preservar o tecido social da corrupção ética.
Em muitos aspectos, não estamos muito longe da decadência moral e ética que precede uma verdadeira reforma. É bom lembrar que algo precisa de reforma quando se deteriorou, ou tomou curso errado, ou se deformou. Assim, reformar é formar de novo, reconstruir, corrigir, retificar, restaurar. Em suma, reformar é fazer um “movimento para trás”, é levar algo à sua situação original.
Há quase quinhentos anos, foram adotados quatro princípios fundamentais pelos líderes da Reforma, os quais a nortearam e lhe deram consistência.
Primeiro: a fé cristã deve ser baseada nas Escrituras Sagradas, pois nada substitui a autoridade da Bíblia como nossa regra de fé e prática. Nem costume, nem tradição, nem cultura. Segundo: a fé cristã deve ser racional e inteligente, significando que, embora a razão esteja subordinada à Revelação, a natureza racional do homem não pode ser violada por dogmas e doutrinas irracionais.
Terceiro: a fé cristã é pessoal, ou seja, cada crente deve confessar o seu pecado diretamente a Deus, sem a necessidade de um sacerdote humano para perdoar-lhe. A adoração também é pessoal, de modo que os crentes podem ter comunhão com Deus, individualmente. Quarto: a fé cristã deve ser espiritual, não formalista. Isso pressupõe a volta aos princípios evangélicos de simplicidade e pureza, indicando que o crente é santificado pela presença do Espírito Santo em sua vida interior, não pela observância de formalidades e cerimônias externas.
Precisamos de uma Reforma urgente! Precisamos de uma nova Reforma que nos faça voltar à Palavra de Deus, estudá-la, conhecê-la, praticá-la. Quanto mais obedecermos a Palavra de Deus, ainda mais saberemos sobre a vontade de Deus para as nossas vidas e o seu propósito para a totalidade da história, nossa e do Brasil. Precisamos de uma nova Reforma que nos faça retornar ao espírito da primeira Reforma, que evidenciava principalmente a Verdade bíblica como norteadora de todas as áreas da vida. Sem a Verdade da Palavra de Deus não há Reforma que valha o próprio nome.
Precisamos de uma nova Reforma que nos ajude a manter a prática dos elevados valores cristãos com racionalidade e inteligência, sabedores que somos livres em Cristo; portanto, não devemos nos subordinar a critérios religiosos ou políticos que violem a nossa consciência, principalmente na hora de escolher os governantes que respeitem a nossa fé e lutem pela grandeza do Brasil.
Precisamos de uma nova Reforma que eleve em nós o desejo ardente de manter uma vida limpa, priorizando acima de tudo a comunhão com Deus, levando-nos a andar de cabeça erguida, com simplicidade e pureza, no exercício da nossa santa influência social como sal da terra e luz do mundo.
O contexto em que vivemos hoje no Brasil é profundamente preocupante, com um país dividido e em crise. E tal crise tem nome e origem: roubalheira dos cofres públicos, corrupção desmedida no governo, inflação sem controle, economia estagnada, aparelhamento do estado, degradação das instituições democráticas, socialização da pobreza, hipocrisias escabrosas, mentiras e baixarias inomináveis no trato político, risco à liberdade democrática etc.
É também por isso que precisamos de uma nova Reforma que nos ajude a ajudar o Brasil a alcançar a posição que corresponda à sua grandeza e importância.
Devemos ter isto sempre em mente: a Reforma de que precisamos deve ser contínua e crescente, na medida em que nos mantemos abertos e receptivos para que a “multiforme graça de Deus” opere a vontade de Deus na Igreja e em nossas vidas, e isso resulte em benefício para a sociedade brasileira e ajude a tornar o Brasil num país melhor e sempre melhorando.
 


Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém













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