terça-feira, 11 de agosto de 2009

A FAMÍLIA JUDIA SALVA POR ALEMÃES







por Rui Martins, direto de Locarno, Suiça.




Em 1965, Marga Spiegel publicou na Alemanha o livro Retter in der Nacht, na qual contava como foi salva da deportação dos judeus pelos nazistas graças a um fazendeiro alemão que a acolheu assim como sua filha, trocando o sobrenome Spiegel pelo de Kronen. Seu marido que, na juventude, lutara pelos alemães na Primeira Guerra Mundial, ficou escondido numa mansarda de outro fazendeiro vizinho.

O cineasta holandês Ludi Boeken, cujos pais também foram salvos pelo que se decidiu chamar de “justos”, decidiu transformar em filme o relato publicado há 44 anos e localizou mesmo as sobreviventes, hoje idosas Marga Spiegel-Menne e Anni Aschoffs, filha do casal de fazendeiros, para participarem da filmagem das últimas cenas, quando foram identificadas.

A apresentação do filme no telão de 300 m2 da Piazza Grande foi ainda mais marcante com a presença de Marga e Anni, quando deram seu depoimento e com bastante lucidez e memória relembraram como ficaram quase três anos escondidas e protegidas.

O filme procura deixar claro que a propalada justificativa de que se desconhecia, na época, o extermínio dos judeus pelos nazistas. O casal protetor Aschoffs era ligado ao partido nazista e naquela época nem poderia deixar de ser, com um filho lutando na frente russa (onde acabou morrendo), mas discordava da política de caça aos judeus. E foi para livrá-los da morte que aceitou guardá-los na fazenda, com base numa interpretação pessoal da doutrina católica de proteção ao próximo.

Logo depois de ter assumido o poder em 1933, Hitler foi criticado por alguns líderes católicos e protestantes, logo perseguidos. Alguns foram mortos outros se refugiaram na Suíça, os restantes aderiram ao discurso nacional-socialista, mesmo porque existem acusações sérias ao Papa Pio XII (um filme de Costa Gavras trata o tema) por não ter aceitado denunciar o holocausto.

O filme não entra nestas questões mas mostra o dia a dia, os perigos que o casal protetor corre também por abrigar judeus, os controles de residência feitos pela polícia alemã, até a chegada dos americanos que nem sempre sabia distinguir entre nazistas e judeus sobreviventes e a prova da circuncisão voltava a valer, desta vez de forma positiva.

Mais um filme sobre o holocausto? poderão alguns perguntar.

É verdade que outros genocídios foram cometidos, contra os armênios, contra os cambodgianos, contra diversas etnias na África, pelos sérvios em nome da unidade ioguslava, mas as recentes afirmações do presidente iraniano rejeitando e depois colocando em dúvida o holocausto, reforçam a necessidade de manter acesa a memória européia, pois o crime étnico dos nazistas ocorreu numa Alemanha de cultura e civilização avançadas.

Retornos ao barbarismo podem ocorrer e os próprios perseguidos de ontem pode se tornar novos perseguidores. A esse respeito o filme-teatro de Amos Gitai, exibido também neste Festival, é esclarecedor.





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