Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Quem gosta de observar o caminho da religiosidade humana, frequentemente encontra pessoas que se dizem cheias de fé. “Eu tenho muita fé” — é uma expressão que funciona como referendo para o tipo de vida que levam ou, em última instância, como um “passaporte” para a solução de todos os problemas ou uma forma de não encará-los. A julgar pelas evidências dos arroubos dessas declarações, penso que a fé é, geralmente, uma doutrina incompreendida.
Normalmente, não devemos julgar questões de natureza subjetiva, aquelas passadas no íntimo das pessoas. Mas, em questão de fé, convém manter-nos bem informados a respeito, e não mal informados ou desinformados. É preciso saber sobre esse assunto demasiado importante, que abrange o certo e o errado, o bem e o mal, que na verdade decide o destino eterno de cada um.
Há pelo menos um princípio fundamental que circunscreve este assunto a uma esfera plenamente mensurável e, portanto, de fácil compreensão. É o seguinte: se uma pessoa diz ter fé, essa mesma fé deve desembocar em atitudes correspondentes. Por exemplo, se alguém diz ter fé em Deus, a sua vida deve espelhar, principalmente na esfera do caráter, uma excelência que demonstre esse relacionamento. Como pode alguém afirmar crer em Deus, se sua fé em nada o transforma, e continua vivendo a mesma vidinha pecaminosa de sempre?
Sendo assim, por que em muitos faltam os frutos espirituais que lhes remetam à fé que dizem possuir? Onde está a transformação radical na conduta e perspectiva geral nas suas vidas?
Parece, geralmente, que muitos “fiéis”, por mais sinceros que sejam, fracassam completamente em tirar o mínimo proveito da doutrina da fé, ou receber a partir dela qualquer experiência satisfatória. Isso acaba por tornar-se uma negação da própria fé que julgam professar.
Após anos a fio ouvindo e aconselhando muitas pessoas, tirei preciosas conclusões a respeito dos mais diversos tipos de fé. Alguns utilizam a fé como um substituto à obediência. Apegam-se a textos bíblicos isolados, tomados muitas vezes fora do contexto, ou então baseiam-se em suas fugazes experiências (ou pretextos), para deixar de obedecer aos mandamentos de Deus. Quem crê obedece. A falha em obedecer é uma prova irrefutável e convincente de que não há verdadeira fé.
Há os que usam a fé como um refúgio da exigência de raciocinar, pois vivem como se a fé fosse um “salto no escuro”. Outros, usam-na como uma fuga da realidade, tentando fazer desaparecer o infortúnio “mediante a fé”. Outros há que a utilizam como um esconderijo para um caráter fraco, dando ao mundo um mau exemplo de que pessoas de fé são desprezíveis, quando a Bíblia mostra exatamente o oposto.
Tenho visto também pessoas muito sinceras que confundem fé com otimismo, circunscrevendo-a à dimensão das suas próprias emoções e tiques nervosos. E ainda há os que pensam ser a fé uma força ou uma influência.
Desse modo, a mudança da falta de fé para uma vida de fé não faz uma real diferença nas vidas dessas pessoas. Não creio, portanto, que a fé que não transforma quem a professa faça também alguma diferença para Deus.
Fé é confiança em Deus e em Seu Filho Jesus Cristo. Fé é a certeza que vem da revelação da Palavra de Deus, assim definida: “A fé é a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não vêem” (Hb 11.1). A doutrina da fé é essencial no plano divino da salvação. Ela é vital às nossas expectativas e extremamente essencial ao cumprimento das aspirações do nosso coração. Está escrito: “A fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus” (Rm 10.17). Isso quer dizer que onde não há fé não há uma verdadeira revelação.
A verdadeira fé se apoia no caráter de Deus e não exige outras provas além da perfeição moral do Deus Justo e Verdadeiro. Ou seja, ainda que as evidências sejam aparentemente intransponíveis, a fé continua a ver a ação transformadora de Deus e Nele coloca a sua confiança. Como disse o profeta Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vide; o produto da oliveira minta, e os campos não produzam mantimento; as ovelhas sejam arrebatadas do aprisco, e nos currais não haja gado, todavia, eu me alegro no Senhor, exulto no Deus da minha salvação. O Senhor Deus é a minha fortaleza” (Hc 3.17-19).
Portanto, a fé é assim: “Se não tiver obras, por si só está morta. Mas alguém dirá: Tu tens fé, e eu tenho obras; mostra-me essa tua fé sem as obras, e eu, com as obras, te mostrarei a minha fé”.
Se você quer agradar a Deus, é preciso que saiba de mais uma coisa: “Sem fé é impossível agradar a Deus”.
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