Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
A imprensa noticiou recentemente que o meia-atacante corintiano, o chinês Zizao, atração de um evento de Páscoa para crianças carentes na sede do clube, não entendendo o significado da festa, perguntou: “O que é Páscoa?”. Ora, a pergunta de Zizao é compreensível, pois a maioria dos chineses, inseridos num contexto social de orientação política ateísta, desconhecem a Bíblia e também não possuem o hábito dessa comemoração.
Não ficou claro se a pergunta teve resposta. Mas o que lhe diriam os brasileiros, muitos dos quais também desconhecem o correto significado da Páscoa? Podemos vislumbrar algumas respostas possíveis.
Há os que diriam que a Páscoa significa apenas uma festa em que se celebra a vida e a fertilidade (daí os coelhinhos e os ovos de chocolate) e uma oportunidade para se presentear os amigos com ovos de chocolate, uma chance festiva para escapar do regime e engordar uns quilinhos com a bênção do feriadão religioso.
Outros responderiam que a Páscoa é economicamente importante pela oportunidade de negócios que oferece, pela possibilidade de bons lucros decorrentes da venda de artigos religiosos e guloseimas. Não poucos religiosos afirmariam que a importância da Páscoa é circunscrita ao rigor devocional da proibição de comer carne vermelha e à obrigação de frequentar uma igreja, buscando um momento de realinhamento religioso para confessar e purgar alguns pecadinhos da vida e seguir em frente com algum alívio.
Uma resposta mais acurada afirmaria, porém, que a Páscoa tem um significado essencialmente espiritual. Páscoa é uma palavra que vem do hebraico “pesah”, que significa literalmente “passar por cima”, “poupar”. Quando Deus libertou o povo de Israel da escravidão do Egito, no evento chamado Êxodo, antes ordenou que cada família se reunisse e tomasse um cordeiro de um ano e sem defeito, sacrificando-o e comendo-o assado, acompanhado de ervas amargosas e pão sem fermento.
Os israelitas deveriam passar o sangue do cordeiro nas laterais e vigas superiores da portas das casas, pois quando o anjo da morte percorresse a terra, passaria “por cima” das residências que tivessem o sinal do sangue para “poupar” os seus primogênitos (Êxodo 12). Daí o termo Páscoa e a ordem de Deus para que fosse celebrada continuamente como um memorial dessa libertação.
Embora a mensagem da Páscoa se reporte a um acontecimento tão distante na História, ela nos traz importantes lições, contidas nos seus próprios símbolos. O cordeiro “sem defeito” prefigurava Jesus, o Homem que “não cometeu pecado” e o “cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. O cordeiro morto e o seu sangue passado nas portas eram uma antecipação simbólica do sacrifício de Cristo na cruz pelos nossos pecados.
As ervas amargosas sinalizavam a necessidade de humildade e arrependimento. Como o fermento geralmente simboliza o pecado e a corrupção, o pão sem fermento indicava a pureza requerida dos que servem a Deus. Cada família deveria estar reunida, cuja unidade representava a sacralidade da família aos olhos de Deus, que a abençoa e protege. O cordeiro sacrificado indicava substituição, prenunciando a morte de Cristo como nosso substituto, para não termos de morrer.
Cumprir todo esse ritual identificava a obediência que vem da fé e que resultaria na salvação. Se tão somente o povo israelita deixasse de cumprir a ordem de Deus, por descrença ou descuido, a morte fatalmente os atingiria. Era, portanto, preciso agir com obediência e fé, pois “sem fé é impossível agradar a Deus”.
Páscoa é libertação para toda a família. Portanto, caso sua família esteja com problemas, ou se desintegrando, clame a Deus, pois Ele quer livrar sua casa e torná-la uma bênção. Páscoa é livramento pessoal. Portanto, se sua vida está ilhada, vazia e sem sentido, Deus mostra uma direção segura para levá-lo a uma “terra prometida” de novas oportunidades.
Páscoa é liberdade. Portanto, se você está escravizado a vícios ou tem alguma deformação de caráter, lembre-se que Deus tem o poder de perdoar e libertar. Páscoa representa também contrição, arrependimento e gratidão pela obra redentora de Cristo, que propicia uma comunhão íntima com Deus. Portanto, aproveite esse momento para buscar a Deus “enquanto se pode achar” e invocá-lo “enquanto está perto”.
A Páscoa é uma festividade memorial, ajudando a lembrar que Jesus morreu e ressuscitou pelos nossos pecados, para sermos salvos e termos vida abundante. Feriado, coelhinhos, ovos de chocolate, nada disso pode ofuscar o que Cristo realizou, quando morreu na cruz para pagar o preço da nossa salvação eterna e ressuscitou para nos tornar inculpáveis diante de Deus.
É por isso que a Páscoa deve ser comemorada com alegria, pois aponta para a libertação que Jesus propiciou aos que creem. Cristo está vivo e Sua palavra ainda ecoa: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá”.
Entendeu, Zizao? Tenha uma feliz Páscoa!
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
Envie um e-mail para mim!
Nenhum comentário:
Postar um comentário