domingo, 6 de maio de 2012

Entre hipócritas e sábios


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Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém




Cícero, reconhecidamente o maior orador de todos os tempos, tinha “a mais fluente língua da história humana”. Sua desgraça foi tentar ser filósofo e político ao mesmo tempo. Como filósofo, via geralmente os vários lados de uma questão. Como político, era forçado a tomar partido de um só lado. Assim, não sabendo que lado tomar, dissimulava. O problema foi saber se, na guerra civil romana, tomaria o partido de Pompeu ou de César. Incapaz de tomar uma decisão coerente, proferiu brilhantes discursos, ora em favor de um, ora em favor de outro. Sua hipocrisia lhe fez ganhar dois inimigos.

O filósofo grego Hegesias, em sua busca tateante da verdade, concluiu que a vida era um engano trágico, e a morte, o dom supremo. Por isso, dedicou sua vida à pregação do ideal da morte, organizando clubes de suicidas e induzindo muitos jovens ao suicídio. Quanto a ele mesmo, viveu até a idade de oitenta anos. Quando lhe perguntavam por que não praticava o que pregava, ele dissimulava e dizia que, se morresse, ninguém tomaria o seu lugar para ensinar o prazer da morte. Era um hipócrita.

Eis, acima, dois exemplos de hipócritas clássicos. O que define um hipócrita tem raízes históricas. O termo vem do teatro grego, cujos atores representavam com uma “hypokrités” ou máscara. Por definição, o hipócrita é um impostor, alguém que  finge e simula; é um falso. Sua máxima é: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Assim, em toda falsa devoção há um hipócrita de plantão.

Dizem que só havia um tipo de homem que Sócrates odiava: o hipócrita. Ele tinha prazer em denunciar os que diziam uma coisa mas viviam outra, e especialmente aqueles que pretendiam ser sábios, quando não passavam de tolos. Ninguém aborrecia mais a Jesus que os fariseus hipócritas. Por isso, Jesus orientava as pessoas que não fossem como os tais, que viviam da mera aparência religiosa e cuja devoção objetivava apenas a serem vistos e louvados pelos homens.

Não há sabedoria na hipocrisia. O sábio não pode ser hipócrita, nem o hipócrita pode ser sábio. De fato, penso que ninguém aprecia os hipócritas e cada um de nós, de alguma forma, gostaria de ser sábio. O hipócrita nem é tão esperto quanto imagina. Por isso, também devemos olhá-lo com olhos de suspeita e procurar ouvir o sábio com atenção. Porque a vida e a felicidade podem depender disso.

O povo brasileiro parece ter se acostumado com a hipocrisia da classe política, principalmente em tempos de funcionamento de CPI para apurar atos de corrupção. Prometem apurar tudo, expor os ilícitos e punir os culpados, mas jamais conseguem se livrar da pecha de que tudo “termina em pizza”.

Por ocasião da instalação da CPI no Congresso Nacional para investigar o bicheiro Carlinhos Cachoeira, quando foi divulgada a lista dos parlamentares integrantes da mesma, soubemos pela imprensa que o bicheiro em questão, ao tomar conhecimento dos nomes que o investigariam, soltou uma sonora gargalhada. Quanta sabedoria ou hipocrisia esconde uma gargalhada dessa? Que mensagem esse riso solto está enviando ao povo brasileiro?

Noutra ponta, as promessas proferidas por políticos, principalmente em tempos de campanha eleitoral, já fazem parte da cultura da hipocrisia. Geralmente não nos surpreendemos mais em ouvir que o “sim” de alguns sobre um assunto se transformou depois em “não” sobre o mesmo assunto, como se fosse possível uma mesma fonte jorrar água doce e salgada.

Muito melhor é ser sábio. Do latim sapidu, ou “o que tem sabor”, refere-se a pessoas que são ajuizadas e prudentes. Em um sentido mais amplo, o sábio é erudito, versado; é aquele que tem sabedoria. Portanto, compete ao político ser sábio em suas propostas; e importa ao eleitor ser sábio em suas escolhas.

Decerto, há dois tipos de homens: o sábio e o hipócrita. Sábio é aquele que trilha caminhos direitos, cujo sim é sim, cujo não é não. Tal como Jesus ensinou: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno” (Mt 5.37). O sábio, se erra, é honesto o suficiente para se arrepender e confessar que errou, sem esperar primeiro ser apanhado para, só depois, assumir seu erro.

O hipócrita diz sim e não, dissimuladamente; só confessa malfeitoria quando é descoberto. Do político ao bandido comum, essa tem sido uma imagem normal na vida nacional: pessoas chorando diante das câmeras, não de arrependimento, mas de remorso, tão somente porque foram pegas nas suas hipocrisias.

Cada pessoa tem de decidir se deseja viver entre os  hipócritas ou entre os sábios, pois seu futuro pode depender disso. “Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau” (Pv 13.20).

O princípio da sabedoria consiste em temer a Deus e andar segundo a Sua Palavra, não pela esperteza humana. Ande com os sábios.



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