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Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Cícero,
reconhecidamente o maior orador de todos os tempos, tinha “a mais
fluente língua da história humana”. Sua desgraça foi tentar ser filósofo
e político ao mesmo tempo. Como filósofo, via geralmente os vários
lados de uma questão. Como político, era forçado a tomar partido de um
só lado. Assim, não sabendo que lado tomar, dissimulava. O problema foi
saber se, na guerra civil romana, tomaria o partido de Pompeu ou de
César. Incapaz de tomar uma decisão coerente, proferiu brilhantes
discursos, ora em favor de um, ora em favor de outro. Sua hipocrisia lhe
fez ganhar dois inimigos.
O
filósofo grego Hegesias, em sua busca tateante da verdade, concluiu que
a vida era um engano trágico, e a morte, o dom supremo. Por isso,
dedicou sua vida à pregação do ideal da morte, organizando clubes de
suicidas e induzindo muitos jovens ao suicídio. Quanto a ele mesmo,
viveu até a idade de oitenta anos. Quando lhe perguntavam por que não
praticava o que pregava, ele dissimulava e dizia que, se morresse,
ninguém tomaria o seu lugar para ensinar o prazer da morte. Era um
hipócrita.
Eis,
acima, dois exemplos de hipócritas clássicos. O que define um hipócrita
tem raízes históricas. O termo vem do teatro grego, cujos atores
representavam com uma “hypokrités” ou máscara. Por definição, o
hipócrita é um impostor, alguém que finge e simula; é um falso. Sua
máxima é: “Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”. Assim, em
toda falsa devoção há um hipócrita de plantão.
Dizem
que só havia um tipo de homem que Sócrates odiava: o hipócrita. Ele
tinha prazer em denunciar os que diziam uma coisa mas viviam outra, e
especialmente aqueles que pretendiam ser sábios, quando não passavam de
tolos. Ninguém aborrecia mais a Jesus que os fariseus hipócritas. Por
isso, Jesus orientava as pessoas que não fossem como os tais, que viviam
da mera aparência religiosa e cuja devoção objetivava apenas a serem
vistos e louvados pelos homens.
Não
há sabedoria na hipocrisia. O sábio não pode ser hipócrita, nem o
hipócrita pode ser sábio. De fato, penso que ninguém aprecia os
hipócritas e cada um de nós, de alguma forma, gostaria de ser sábio. O
hipócrita nem é tão esperto quanto imagina. Por isso, também devemos
olhá-lo com olhos de suspeita e procurar ouvir o sábio com atenção.
Porque a vida e a felicidade podem depender disso.
O
povo brasileiro parece ter se acostumado com a hipocrisia da classe
política, principalmente em tempos de funcionamento de CPI para apurar
atos de corrupção. Prometem apurar tudo, expor os ilícitos e punir os
culpados, mas jamais conseguem se livrar da pecha de que tudo “termina
em pizza”.
Por
ocasião da instalação da CPI no Congresso Nacional para investigar o
bicheiro Carlinhos Cachoeira, quando foi divulgada a lista dos
parlamentares integrantes da mesma, soubemos pela imprensa que o
bicheiro em questão, ao tomar conhecimento dos nomes que o
investigariam, soltou uma sonora gargalhada. Quanta sabedoria ou
hipocrisia esconde uma gargalhada dessa? Que mensagem esse riso solto
está enviando ao povo brasileiro?
Noutra
ponta, as promessas proferidas por políticos, principalmente em tempos
de campanha eleitoral, já fazem parte da cultura da hipocrisia.
Geralmente não nos surpreendemos mais em ouvir que o “sim” de alguns
sobre um assunto se transformou depois em “não” sobre o mesmo assunto,
como se fosse possível uma mesma fonte jorrar água doce e salgada.
Muito melhor é ser sábio. Do latim sapidu,
ou “o que tem sabor”, refere-se a pessoas que são ajuizadas e
prudentes. Em um sentido mais amplo, o sábio é erudito, versado; é
aquele que tem sabedoria. Portanto, compete ao político ser sábio em
suas propostas; e importa ao eleitor ser sábio em suas escolhas.
Decerto,
há dois tipos de homens: o sábio e o hipócrita. Sábio é aquele que
trilha caminhos direitos, cujo sim é sim, cujo não é não. Tal como Jesus
ensinou: “Seja, porém, a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto
passar vem do maligno” (Mt 5.37). O sábio, se erra, é honesto o
suficiente para se arrepender e confessar que errou, sem esperar
primeiro ser apanhado para, só depois, assumir seu erro.
O
hipócrita diz sim e não, dissimuladamente; só confessa malfeitoria
quando é descoberto. Do político ao bandido comum, essa tem sido uma
imagem normal na vida nacional: pessoas chorando diante das câmeras, não
de arrependimento, mas de remorso, tão somente porque foram pegas nas
suas hipocrisias.
Cada
pessoa tem de decidir se deseja viver entre os hipócritas ou entre os
sábios, pois seu futuro pode depender disso. “Quem anda com os sábios
será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau” (Pv 13.20).
O princípio da sabedoria consiste em temer a Deus e andar segundo a Sua Palavra, não pela esperteza humana. Ande com os sábios.
E-mail: samuelcamara@boasnovas.tv
.
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