Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Um
caçador das montanhas, conta a lenda, certa feita encontrou um ninho de
águia, tomou um ovo e o levou para casa, colocando-o sob uma galinha
que chocava. Algum tempo depois, nasceu uma aguiazinha entre os
pintinhos, que foi criada com o mesmo extremado cuidado e proteção. A
aguiazinha aprendeu a ciscar e a comer a comida dos pintinhos, além de
fazer tudo o mais que os mesmos faziam. E assim, ela foi crescendo e
vivendo naquele terreiro como se fosse uma galinha.
A aguiazinha sequer imaginava que podia voar nas alturas e dominar os céus, pois, vivendo como galinha, não aprendera a voar.
Certo
dia, a “aguiazinha do galinheiro” viu uma grande ave voando nas
alturas, como se fosse a dona dos céus. Achou aquilo maravilhoso e até
sentiu vontade de voar. Ela achegou-se à sua “mãe galinha” e
perguntou-lhe sobre aquela ave que estava a voar tão majestosamente nas
alturas. Sua mãe respondeu-lhe que era uma águia, a “rainha das aves” e
que só ela conseguia voar tão alto. E acrescentou: “Isto não é para nós;
somos apenas galinhas!”
Desse
modo, a pobre aguiazinha, acreditando que fosse apenas uma galinha,
viveu toda a sua vida naquele galinheiro, sem jamais conhecer as
alturas.
Esta
lenda funciona como uma poderosa parábola da vida de muitas pessoas,
ilustrando metaforicamente que de algum modo estão a viver em condições
semelhantes. Em vez de voarem, arrastam-se pela vida, frustradas e
infelizes, sem reconhecerem o que são, sem jamais experimentarem a vida
que foram destinadas a viver.
Deus nos compara às águias: “Os que esperam no Senhor renovam as suas
forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e
não se fatigam” (Is 40.31). A águia, a rainha das aves, é forte e
rápida, tem o voo mais alto. O homem é a coroa da criação de Deus. A
águia tem um voo impetuoso, como impetuosos são os homens. Ela habita
nas alturas e em lugar seguro; espiritualmente falando, fomos feitos
para habitar no esconderijo do Altíssimo e descansar à sombra do
Onipotente (Sl 91.1; Ef 2.6).
Que linda comparação! A razão de ser da nossa existência começa em
sermos verdadeiros adoradores de Deus. Qualquer coisa abaixo disso é
“viver como galinha”. O salmista dizia: “Bendize, ó minha alma, ao
Senhor, e tudo o que há em mim bendiga ao seu santo nome” (Sl 103.1-5).
Ele não queria esquecer de nenhum dos benefícios do Senhor: o perdão dos
pecados, a cura das enfermidades, o livramento do mal, a alegria de
viver uma vida plena e vitoriosa.
Além
disso, é Deus “quem farta de bens a tua velhice, de sorte que a tua
mocidade se renova como a da águia”. Essa propalada renovação da águia
é, de certa forma, um mistério. Embora ainda não provada
cientificamente, há indicações bíblicas de que tal ocorra, assim como
relatos em várias culturas.
Pensa-se
que a águia chegue a viver setenta anos. Na meia idade, contudo, ela
experimenta grande decrepitude. Suas unhas, compridas e flexíveis,
dificultam o agarramento das presas de que se alimenta. O bico fica
alongado e se curva. Suas asas, envelhecidas e pesadas, em função da
grossura das penas, tornam difícil a tarefa de voar.
Nessa
altura da vida, a águia tem duas alternativas: morrer ou enfrentar uma
longa e penosa renovação. Esse processo renovador consiste em se
recolher numa montanha onde haja água. Ela começa a bater com o bico na
pedra até arrancá-lo; depois, espera nascer um novo bico, com o qual
arranca suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a
arrancar as velhas penas. Em pouco tempo, a águia estará pronta para o
voo da renovação.
Embora
geralmente as pessoas desejem mudar de vida, paradoxalmente, a maioria
não quer mudanças. Continuam a fazer tudo do mesmo jeito, como se
pudessem obter resultados diferentes sem precisar agir de modo
igualmente diferente. Há muitos que pensam que seriam felizes se tão
somente tivessem mais dinheiro ou bens. Os poucos que muito têm, na
contramão desse pensamento, sabem que, embora o que tenham lhes
proporcione viver bem, isso não os torna mais felizes.
Como
na parábola da águia, o problema está naquilo que fomos criados para
ser, não no que temos ou nas circunstâncias que enfrentamos. Fomos
criados para manter comunhão com Deus, para nos relacionarmos com Ele
através de Jesus. Esse é o ponto de partida. Tudo o mais fica nebuloso e
confuso sem essa premissa, tudo perde o sentido sem esse fundamento.
Jesus
é o caminho da renovação, pois “se alguém está em Cristo, é nova
criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co
5.17). “Sem mim nada podeis fazer”, disse Jesus. Isso faz toda a
diferença, metaforicamente falando, entre ciscar como galinha e voar
como águia.
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