sexta-feira, 20 de julho de 2012

Vida plena após o triunfo





Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém



Ninguém gosta de ser perdedor. O último livro da Bíblia, Apocalipse, que trata das “últimas coisas”, traz oito promessas diretamente aos vencedores, nenhuma aos perdedores, mostrando que a vontade de Deus é que triunfemos em tudo. O apóstolo Paulo externava essa certeza com gratidão: “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento” (2 Co 2.14). 

Destinados ao triunfo, como aprender a conviver com tal destinação para a vitória? Como permanecer fiel e não cair nas ciladas pós-conquistas?

Paulo certamente tomou emprestado essa figura da cultura romana para advertir os cristãos da Igreja de Corinto a respeito da possibilidade da queda após a euforia do triunfo. Ele alertava: “Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia”.

Quando Roma homenageava um general, após uma campanha vitoriosa, concedia-lhe a máxima honraria do Triunfo. O Triunfador, com cetro e coroa de louros, vestia um manto de púrpura bordado e sentava-se em um carro puxado por quatro cavalos brancos. Era precedido por senadores, rodeado por parentes e amigos, seguido por todo o seu exército e um grande número de cidadãos, conduzido em pompa pelas ruas da cidade até ao Capitólio. Adiante dele desfilavam o conjunto de despojos dos inimigos vencidos, juntamente com os reis aprisionados. Logo atrás, iam as vítimas que deveriam morrer em sacrifício e oferenda aos deuses.

Durante a cerimônia, um escravo tinha a missão de ir logo atrás do Triunfador proclamando: “Lembra-te que és homem! Cuidado! Cuidado! Não caias!”. Era um contrapeso às aclamações da multidão, para lembrá-lo de que era um simples mortal. Enquanto todos ovacionavam o homenageado, o escravo era usado para combater a possibilidade do orgulho que um aparato tão deslumbrante pudesse inspirar ao Triunfador.

Isto fazia parte do protocolo, pois temia-se que, em meio à embriaguez daquela glória passageira, o homenageado poderia se esquecer de sua mera condição humana e, diante de tal pompa e circunstância, vir a pensar que era um “deus”. A advertência servia para que o general se lembrasse que, muitas vezes, depois do  Triunfo, havia sempre a possibilidade da queda.

Essa é uma advertência que tem o condão de ser útil a nações, pessoas e instituições. Serve para qualquer aspecto da vida. Veja o exemplo do povo de Israel que, após grandes triunfos (libertação do Egito, passagem pelo Mar Vermelho, milagrosa alimentação no deserto do Sinai) cometeu depois pecados de idolatria e imoralidade, razão pela qual toda uma geração foi rejeitada por Deus e veio a perecer.

A Júlio César foram concedidos dois Triunfos. Outorgaram-lhe o direito de ostentar diariamente os paramentos que um Triunfador só usava no dia do seu Triunfo. Foi-lhe assegurada a sacralidade de tribuno (que tornava sacrilégio fazer-lhe algum mal), sua efígie apareceu em novas moedas, sua estátua foi esculpida a expensas públicas e colocada no Capitólio, no fim da fila dos Sete Reis de Roma. Ele ainda recebeu do Senado os títulos de Pai da Pátria e Imperador.

Diante de tanta glória, descuidou-se de sua segurança e não foi capaz de identificar a conspiração que veio a ceifar sua vida.

Quem não conhece alguma pessoa ou empresa que se tornou arrogante pelo sucesso de um produto ou por um prêmio recebido? Quem não conhece alguém que, depois de uma conquista, se mostrou prepotente e orgulhoso?

Não há entre nós fartos exemplos de pessoas e empresas que se deixaram embriagar pela pompa e circunstância de um fugaz momento de glória e, pouco tempo depois, caíram em desgraça, perderam a importância, faliram?

Quantas marcas famosas, quantos impérios aparentemente indestrutíveis, quantas pessoas que pareciam inabaláveis, quando de repente tudo desabou, acabou em fulminante derrocada, sem que se conseguisse compreender de imediato as razões da queda.

Parece que, de repente, tudo veio abaixo depressa demais, não poucas vezes logo após um triunfo consagrador. Mas eu penso que nenhuma queda é “de repente”. Antes, elas ocorrem porque paulatinamente vamos deixando de ouvir a sábia voz da razão que diz: “Lembra-te que és homem! Cuidado! Cuidado! Não caias!”

A queda vem quando deixamos de ser humildes e pensamos que somos “deuses” intocáveis; porque, com o sucesso, vamos deixando de lado a sensatez e nos tornamos arrogantes e pretensiosos.

Devemos reconhecer, portanto, que “toda boa dádiva e todo dom perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes”, sabendo que “o homem não pode receber coisa alguma se do céu não lhe for dada” (Tg 1.17; Jo 3.27). Tudo vem de Deus e deve voltar para Ele.

Se queremos nos manter sempre firmes e vitoriosos na vida, temos de permanecer humildes e agradecidos, honrando a Deus pelas conquistas. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus”. Este é o antídoto infalível contra a queda.



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