Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Nas
Olimpíadas de 1968, John Stephen Akhwari, da Tanzânia, foi o último
colocado na Maratona. Ele correu a maior parte do percurso de 42
quilômetros pelas ruas da Cidade do México com uma perna enfaixada e
sangrando, sentindo dores a cada passo, pois sofrera uma queda logo no
início da corrida.
Muito depois da chegada dos competidores, ele entrou no estádio para a
volta final, acompanhado pelas motocicletas da escolta policial, cujas
luzes piscavam iluminando a noite fria e escura. O mundo assistiu pela
televisão quando as arquibancadas romperam em aplausos ritmados, que se
tornaram cada vez mais fortes à medida que ele rodeava o campo e cruzava
a linha de chegada. Todos vibravam como se ele tivesse vencido.
Mais tarde, perguntado sobre por que tinha suportado a dor, em vez de
desistir da corrida, Akhwari pareceu perplexo e respondeu simplesmente:
“Acho que vocês não entenderam. Meu país não me enviou à Olimpíada para
começar a corrida. Eu fui enviado para completar a prova”.
Por
este exemplo, podemos comparar a vida a uma competição de maratona, com
largada e chegada. Há muitas provas diferentes, na vida e nos esportes,
as quais exigem as mais variadas gradações de esforços. Portanto, cada
pessoa é responsável pela própria escolha de como enfrentará as
competições da vida.
Não
são poucas as pessoas que começam, mas não sabem como terminar.
Perdem-se em algum lugar no caminho, cometem erros que as atrasam ou
inviabilizam a sua trajetória. Há também aqueles que sequer sabem para
onde estão indo, andam a esmo, sem alvos específicos, sem metas claras,
de modo que qualquer caminho as levará para lugar nenhum.
Há
os que, sob o peso das exigências normais da vida, perdem o compasso e
desistem, deixam de lutar, ficam paralisados diante dos obstáculos,
deixam de buscar seus alvos, prendem-se ao passado e, deprimidos,
entregam-se às lembranças de conquistas de outrora.
Mas
há também aqueles, como Akhwari, que lutam até o fim, começam e
terminam, e completam a prova com a certeza de que, a despeito das
adversidades, deram o melhor de si e chegaram lá.
O
apóstolo Paulo, em seus ensinos, fez essa relação entre a vida e o
esporte. Ele tratou especialmente de dois princípios elementares que, se
seguidos, remeteriam as pessoas à conquista de sua retumbante vitória
na vida. Aos coríntios, que viviam certos descontroles na comunidade,
ele disse: “Todo atleta em tudo se domina, agüenta exercícios duros
porque quer receber uma coroa de folhas de louro que, aliás, não dura
muito. Mas nós queremos receber uma coroa que dura para sempre” (1 Co
9.25).
Ao
jovem líder Timóteo, que vivia os altos e baixos de sua inexperiência e
timidez, escreveu: “O atleta que toma parte numa corrida não recebe o
prêmio se não obedecer às regras da competição” (2 Tm 2.5).
São
várias as lições que aprendemos desses conceitos. Na vida, temos de
aprender a exercer domínio próprio, de modo a não permitir que as
circunstâncias venham a ser os elementos determinantes dos nossos alvos e
da nossa carreira. Isso mostra que a nossa maior luta não é contra os
outros, mas contra nós mesmos.
Dominar
a si próprio é um dos maiores desafios da vida. A disciplina é,
portanto, a marca maior de uma pessoa vitoriosa. Aquele que se domina,
aprende também a dar o melhor de si. Em fazendo assim, mesmo que não
venha a ser melhor do que um ou outro, certamente terá a consciência
tranquila de ter feito o melhor que pôde.
Precisamos,
igualmente, nos preparar e treinar, para quando as oportunidades
chegarem, não sejamos por elas surpreendidos. O valor intrínseco de
nossos alvos na vida é que determinará o tipo de preço que estaremos
dispostos a pagar para alcançar a nossa meta. Quanto mais elevado o
ideal, maior o preço.
Há
também a lição de que, na vida, existem regras e princípios que devem
ser observados. Não há atalhos, não podemos queimar etapas; é preciso
percorrer o caminho todo e completar a prova.
Outra
lição é que precisamos decidir que tipo de luta enfrentaremos. Um
atleta decide a prova em que competirá, aquela que seja adequada à sua
resistência. Isso indica que há a pessoa certa para o lugar certo. Um
maratonista não será apto a correr cem metros rasos, e vice-versa. Em
outras palavras, não temos de tentar ocupar o lugar de outra pessoa, mas
descobrir o nosso lugar na vida e por ele lutar até a conquista.
A maior lição, porém, tem a ver com o nosso destino eterno, se a escolha que fizermos na vida incluirá ou não obedecer a Deus. Alguns vão preferir meros aplausos humanos na terra. Mas quem escolhe andar com Deus vencerá as competições da vida e herdará a glória eterna.
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