Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Julgar
ou criticar os outros, mas não a si mesmo, está entre as mais
comezinhas atitudes humanas, senão a mais amplamente utilizada pela
maioria dos mortais. Jesus reprovou veementemente essa atitude crítica:
“Por que vês tu o cisco no olho de teu irmão, porém não reparas na trave
que está no teu próprio? Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o
cisco do teu olho, quando tens a trave no teu? Hipócrita, tira primeiro a
trave do teu olho e então verás claramente para tirar o cisco do olho
de teu irmão” (Mt 73-5). Ele também disse: “Não julgueis, para que não
sejais julgados” (Mt 7.1).
Decerto,
a atitude crítica, muitas vezes, se traduz em a pessoa querer ser o que
não é, a ponto de depreciar nos outros aquilo que desejaria para si.
Tal como exemplificado num poema sobre a crítica, de autor desconhecido,
que vem a ilustrar bem essa faceta:
Uma semente lançada no solo, logo começou a germinar.
Pensava: “Com qual dessas flores vou querer me assemelhar?”.
Não quero ser como as rosas; elas têm espinhos.
Não desejo ser um lírio. Ele é muito sem cor.
Certamente também não quero ser uma violeta.
Ela é muito pequena e cresce próximo ao chão.
E assim criticou todas as flores aquela pequena sementinha.
Até que despertou certa manhã e descobriu ser uma erva daninha!
O
fato é que os nossos próprios defeitos ou erros, os quais somos tão
lentos para reconhecer, às vezes parecem muito grandes, mas apenas
quando os vemos em outros. Parece emblemático, por exemplo, o que
aconteceu com Davi, o grande rei de Israel. Ele havia cometido um erro
gravíssimo, que tinha varrido para debaixo do tapete da sua alma.
O
profeta Natã, enviado por Deus, chegou a Davi e contou-lhe uma
parábola: “Havia numa cidade dois homens, um rico e outro pobre. Tinha o
rico ovelhas e gado em grande número; mas o pobre não tinha coisa
nenhuma, senão uma cordeirinha que comprara e criara, e que em sua casa
crescera, junto com seus filhos; comia do seu bocado e do seu copo
bebia; dormia nos seus braços, e a tinha como filha. Vindo um viajante
ao homem rico, não quis este tomar das suas ovelhas e do gado para dar
de comer ao viajante que viera a ele; mas tomou a cordeirinha do homem
pobre e a preparou para o homem que lhe havia chegado”.
Davi
ficou sobremaneira enfurecido contra aquele suposto homem, e disse a
Natã: “Tão certo como vive o Senhor, o homem que fez isso deve ser
morto. E pela cordeirinha restituirá quatro vezes, porque fez tal coisa e
porque não se compadeceu”.
Foi
então que Natã disse a Davi: “Tu és o homem” (2 Sm 12.1-7). Davi
condenara, sem o saber, a si mesmo ao julgar o homem que roubou a
cordeirinha. O caso do adultério de Davi com Bete-Seba, com suas
funestas consequências, é deveras conhecido.
A
Escritura vaticina: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando
julgas, quem quer que sejas; porque, no que julgas a outro, a ti mesmo
te condenas; pois praticas as próprias coisas que condenas” (Rm 2.1).
Lembro-me da história de um homem idoso e míope, que julgava ser um
grande perito em avaliação de objetos de arte. Um dia, ele visitou um
museu com alguns de seus amigos. Havendo esquecido os seus óculos em
casa, ele não podia ver com clareza os quadros, mas isso não o impediu
de emitir as suas “abalizadas” opiniões. Assim que entraram na galeria,
ele começou a criticar vários quadros.
Parando
em frente do que achava ser um retrato de corpo inteiro, logo emendou
uma crítica: “A moldura está totalmente em desalinho com o quadro. O
homem está muito mal vestido e sem graça. De fato, foi um grande erro o
artista ter escolhido um motivo tão descabido para este quadro”.
O
homem ficou tagarelando sem parar, até que a sua esposa finalmente
conseguiu chamá-lo de lado e sussurrar-lhe no ouvido: “Querido, você
está se olhando no espelho”.
Esse
é um exemplo típico de uma figura muito comum e conhecida de todos:
aqueles que veem ciscos nos olhos dos outros, mas não a trave nos seus.
Em geral são pessoas que, muito mais que “micos” ou escorregões éticos,
têm verdadeiros desvios de conduta. São peritos em criticar os outros,
mas não conseguem ver as próprias falhas.
É
fácil criticar, julgar e condenar os outros. Difícil é examinar-se e
julgar a si mesmo. Uma boa cura para o espírito crítico é um olhar
honesto para si mesmo – não para os outros. A Bíblia ensina que não
devemos pensar mais do que convém sobre nós mesmos, mas com “moderação”
(Rm 12.3).
Desse
modo, em vez de sermos peritos em criticar as falhas dos outros, nos
olhemos no espelho da Palavra de Deus e peçamos a ajuda do Senhor para
enxergarmos claramente as nossas próprias falhas.
E
depois de pedirmos perdão, sigamos em frente, certos de que as
misericórdias do Senhor – não as nossas supostas virtudes – são a causa
de não sermos consumidos, inclusive pelos julgamentos alheios.
Envie um e-mail para mim!
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