Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Podemos
facilmente intuir que crise pode ser uma manifestação violenta e
repentina de ruptura do equilíbrio, um estado de dúvidas e incertezas,
de tensão e conflito. Desse modo, crise é uma fase difícil e grave na
evolução das coisas, dos fatos e das ideias, cuja presença tem uma
enorme capacidade de incomodar.
Em
um plano mais amplo, muito já se falou em crise do petróleo, crise do
Oriente Médio, crise cambial, crise de governabilidade, entre outras;
agora, na ordem do dia, fala-se em crise de moralidade e de ética, crise
energética com possibilidade de apagão etc. Em termos pessoais, há as
crises nossas de cada dia, quer se trate das constantes adaptações da
nossa personalidade ou dos turbilhões que enfrentamos na busca de um
lugar ao sol.
As
crises fazem parte da vida, todos temos de passar por elas. No entanto,
ninguém pode negar que, na vida, os momentos mais significativos são
precedidos exatamente por crises. Mesmo que seja difícil perceber a sua
utilidade enquanto esta se processa, a crise, uma vez superada, se
mostra como uma passagem inevitável e obrigatória do nosso sucesso.
Mas
como devemos nos comportar em relação à crise? Há diversos
comportamentos humanos numa situação de crise, dos quais destacamos
cinco.
Há
pessoas que veem a crise como uma catástrofe, como decomposição e o fim
da ordem e da continuidade. Para esses a crise é algo anormal que
devemos evitar a todo custo. São os Catastróficos.
Há
aqueles que se dão conta da crise, mas, em vez de explorar as forças
positivas contidas nela, fogem para o passado, numa tentativa de imitar e
reconstituir os costumes, as categorias de pensar e a vida do passado.
São os Arcaizantes.
Há
os que resolvem a situação de crise fugindo para o futuro. Eles se
situam dentro do mesmo horizonte que os arcaizantes, apenas num outro
extremo. São os Futuristas.
Há
também os que resolvem a crise escapando dela num processo de
interiorização. Eles se dão conta do horizonte enuviado, mas se fazem de
cegos. Evitam o confronto, preferem não saber, não ouvir, não ler e não
se questionar. Querem permanecer no seu pequeno mundo. São os
Escapistas.
O
mais benéfico comportamento diante da crise é o dos Responsáveis. São
aqueles que veem na crise uma chance de uma nova vida. Buscam tematizar
as forças positivas contidas na crise e formulam uma resposta
integradora das variadas dimensões da vida. Não rejeitam o passado por
ser passado, mas aprendem dele como um repositório das grandes
experiências humanas. Não se eximem de fazer novas experiências. Todo
valor, donde quer que venha, é apreciado como valor e deverá ajudar na
formulação de um modelo de vida que possa ser vivido e tenha a chance de
levar corajosamente a história adiante e dar sentido à vida. (BOFF,
Leonardo.)
Onde você se situaria nessas conceituações?
Em relação aos problemas políticos nacionais, esses comportamentos podem ser vistos principalmente nos exemplos seguintes.
Os
catastróficos acham que está tudo apodrecido, que ninguém presta, que
todos os políticos são ladrões e corruptos. Os arcaizantes preferem
pensar que é melhor sentir “saudades do Sarney” do que tentar mudar a
presente situação. Os futuristas continuam a teimar que o Brasil é o
país de um futuro que nunca chega. Os escapistas preferem não votar, não
participar, não escolher, para não se comprometerem. Os responsáveis
são os que estão tentando passar o Brasil a limpo, estão denunciando os
corruptos e punindo os criminosos, lutando de alguma forma para termos
um país melhor.
Saiba
que a Palavra de Deus apresenta a esperança cristã como um quadro
futuro de superação de todas as crises. Jesus mesmo profetizou que as
crises eram algo inerente à vida: “No mundo tereis aflições”; porém
acrescentou: “mas tende bom ânimo; eu venci o mundo” (Jo 16.33). Paulo
afirma o “certificado de garantia” do crente: “Sabemos que todas as
coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são
chamados segundo o seu propósito” (Rm 8.28).
Não
permita, pois, que crise alguma lhe barre a caminhada, continue
guardando a fé e lutando corajosamente o bom combate da vida. Enquanto
nossa esperança não se concretiza, temos de continuar sendo “sal da
terra” e “luz do mundo”, buscando sempre ser instrumentos de bênção para
os que precisam.
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