Por Philip Pullella
CIDADE DO VATICANO (Reuters) - O papa Bento 16 fez uma declaração
histórica reconhecendo que o uso de camisinhas é moralmente justificável
em alguns casos para prevenir contra a Aids, não apenas para garotos de
programa homossexuais, mas também para heterossexuais e transexuais,
disse o Vaticano nesta terça-feira.
O esclarecimento, o mais recente passo em direção ao que já está
sendo visto como uma mudança significativa na política da Igreja
Católica, foi feito durante uma entrevista coletiva para divulgar o novo
livro do papa: "Light of the World: The Pope, the Church and the Signs
of the Times" (Luz do Mundo: O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos).
No livro, uma longa entrevista com o jornalista católico alemão Peter
Seewald, o papa usou o exemplo de que um garoto de programa estaria
justificado em usar uma camisinha para prevenir contra a transmissão da
doença.
O esclarecimento foi necessário porque as versões em alemão, inglês e
francês do livro usaram o artigo masculino ao se referir ao "garoto de
programa", mas a versão italiana usou o artigo feminino ("prostituta").
O padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, disse que havia
perguntado ao papa diretamente sobre isso para esclarecer seu
pensamento.
"Perguntei ao papa pessoalmente se havia uma distinção séria entre o
uso do masculino ao invés do feminino e ele disse 'não'", disse
Lombardi.
"Ou seja, a questão é que (o uso da camisinha) deveria ser o primeiro
passo em direção à responsabilidade de se tornar ciente do risco à vida
de outra pessoa com quem se está tendo uma relação", disse Lombardi.
"Se é um homem, uma mulher ou um transexual que faz isso, defendemos
sempre o mesmo ponto, de que é o primeiro passo de responsabilidade para
prevenir contra a transmissão de um grave risco ao outro."
A Igreja vem dizendo há décadas que camisinhas não fazem parte da
solução no combate à Aids, apesar de não existir nenhuma política formal
sobre o assunto em qualquer documento do Vaticano.
No livro, o papa diz que o uso de camisinhas deveria ser visto como
"o primeiro passo em direção à moralização", mesmo que camisinhas "não
sejam realmente a forma de lidar com o mal da infecção do HIV."
As palavras do papa e a explicação de Lombardi -- apesar de não
mudarem a proibição de métodos contraceptivos pela Igreja Católica --
foram bem recebidas como sendo um avanço pelos católicos liberais,
ativistas contra a Aids e autoridades da saúde.
"Pela primeira vez o uso de camisinhas em circunstâncias especiais
foi apoiado pelo Vaticano e isso é uma boa notícia e um bom começo para
nós", disse Margaret Chan, diretora-geral da Organização Mundial da
Saúde.
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