MARIAZELL, Áustria (AFP) — O Papa Bento XVI lamentou a falta de crianças na Europa e culpou o egoísmo e a falta de confiança no futuro de seus habitantes, no segundo dia de sua visita à Áustria que o levou a Mariazell, um lugar de devoção para os católicos de toda a Europa Central.
Pope Benedict XVI holds a candle during the Vesper ceremony in the shrine of Mariazell 08 September 2007, on the second day of his three-day visit to Austria. Pope Benedict XVI blasted Europeans for being selfish and not having enough children, in a sermon on Saturday at the 850-year-old pilgrimage site of Mariazell in Austria. AFP PHOTO / VINCENZO PINTO
"A Europa se tornou pobre em crianças. Queremos tudo para nós mesmos, e talvez não confiemos o suficiente no futuro", declarou o líder da Igreja católica durante uma missa ao ar livre celebrada diante de mais de 30.000 fiéis por ocasião do 850º aniversário do santuário dedicado à Virgem.
Na véspera, diante dos dirigentes políticos e diplomatas em Viena, o Papa havia qualificado o aborto de "ato contrário aos direitos humanos".
O ministro austríaco da Defesa, Norbert Darabos, reagiu às declarações do Papa sobre o aborto. "Há desacordos" entre a Igreja e o governo, afirmou, destacando que a Áustria não pretende modificar a lei que permite o aborto sob condições.
Bento XVI também considerou que um mundo sem Deus que "não sabe mais fazer a diferença entre o bem e o mal" enfrenta a "terrível ameaça da destruição".
Chuva, vento e frio se uniram para transformar esta etapa em Mariazell, perto dos Alpes, num calvário para os peregrinos que vieram assistir à missa do Papa de 80 anos.
O Papa estava protegido da chuva por uma tenda instalada em cima do altar.
As condições climáticas adversas são provavelmente as responsáveis pela morte, anunciada pela polícia, de dois idosos de cerca de 80 anos. Um teve parada cardíaca e o outro problemas de circulação. O Papa rezou por eles ao término da missa. "Estou seguro de que a mãe de Deus os levou diretamente para o Senhor", disse ele.
Bento XVI, cujo primeiro dia de sua visita à Áustria também havia sido perturbado pela chuva, teve que ir de carro a Mariazell, a 110 km de Viena, abrindo mão do helicóptero que havia sido previsto.
Esta visita do santuário mariano constitui a etapa principal da viagem do Papa alemão a este país do coração da Europa que ele apresentou como "uma peregrinação" no caminho de Maria, a mãe de Jesus.
Em sua homilia, ele convidou os cristãos a expressarem a verdade de sua fé, tendo em mente a fraqueza de "Jesus nos braços de sua mãe" representada na estátua da virgem de Mariazell, e a do Cristo crucificado.
Ele também afirmou que os cristãos rejeitam qualquer atitude "arrogante" com as outras religiões, mas disse que eles não devem duvidar em ostentar sua fé publicamente.
Ao término da missa, o Papa cumprimentou, em seus idiomas respectivos, os peregrinos húngaros, eslovenos, croatas, tchecos, eslovacos e poloneses. Mais de um milhão de peregrinos da Europa Central vêm rezar todos os anos no santuário de Mariazell.
Em seguida, Bento XVI dirigiu-se aos padres, religiosas e religiosos austríacos para confortá-los em sua fé num momento em que sua Igreja, outrora toda-poderosa, passa por uma crise.
O Sumo Pontífice recordou o caráter obrigatório da castidade para os sacerdotes e religiosos católicos da Áustria, onde algumas correntes eclesiásticas questionam o celibato do clero e onde a reputação da Igreja vem sendo manchada por vários escândalos sexuais em seminários.
O Papa deu Cristo como exemplo aos sacerdotes e religiosos reunidos em Mariazell, afirmando que Jesus consagrou sua vida "aos homens e mulheres plenamente e com uma pureza absoluta".
"Com o celibato, oferecéis um testemunho importante. Entre tanta avareza, egoísmo, consumismo e culto ao individualismo nos esforçamos por mostrar o amor desinteressado por homens e mulheres", afirmou.
O cardeal Hans Hermann Groer, ex-arcebispo de Viena, falecido em 2003, se afastou da Igreja em 1995 depois de ter sido acusado de abusos sexuais por antigos seminaristas.
Outro prelado, o ex-bispo ultraconservador de Sankt-Polten, monsenhor Kurt Krenn, também também teve de renunciar em 2004 por decisão do Vaticano depois de ter ocultado práticas sexuais que misturavam homossexualidade e zoofilia no seminário de sua diocese.
Em uma carta a Bento XVI, o movimento progressista "Wir sind Kirche" ("Nós somos a Igreja"), com grande representação entre os fiéis, exigiu uma abertura maior da instituição aos laicos e o fim da obrigação do celibato sacerdotal.
O chefe da Igreja católica também recordou ao clero os outros dois votos que pronunciam quando entram para as ordens religiosas, os de pobreza e obediência, e convidou seus membros a fazer um "profundo exame de consciência" sobre como os cumprem.
Bento XVI fechou a porta para uma possível evolução da doutrina da Igreja católica sobre o celibato de seus sacerdotes em um texto publicado em 13 de março.
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