domingo, 23 de setembro de 2007

Papa ordenou alterações em texto de Aparecida

Consultados, consultores jurídicos do Vaticano teriam mandado retirar artigo sobre comunidades de base


Jamil Chade


Os consultores jurídicos do Vaticano, que respondem diretamente ao papa Bento XVI, impediram que modificações propostas por alguns bispos no texto da Conferência do Episcopado da América Latina, que ocorreu em Aparecida em maio, fizessem parte do documento final. As informações foram reveladas ao Estado por um entrevistado em Roma que não quis se identificar e confirmadas pela embaixada do Brasil na Santa Sé.

O texto de Aparecida, que marca um novo esforço da Igreja na América Latina, foi aprovado pela conferência em 31 de maio e enviado ao papa em 11 de junho. Em menos de dois meses, Bento XVI deu sinal verde para a publicação - tempo recorde para aprovação de documento oficial da Igreja, que, em geral, leva até um ano.

Segundo revelou o Estado, mais de 200 mudanças no texto teriam sido feitas exclusivamente pelo cardeal chileno Francisco Javier Errázuriz Ossa e pelo bispo argentino Andrés Stanovnik, presidente e secretário-geral do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), antes de ser entregue ao papa. As mudanças revoltaram alguns bispos, que chegaram a sugerir que o texto fosse devolvido para ser revisto.

Ocorre que o Vaticano teria tido participação direta na mudança. O centro do debate foi a inclusão ou não de um artigo no documento sobre as comunidades eclesiais de base (CEBs). Em uma primeira votação, o artigo foi reprovado. No debate final, o artigo voltou à votação e, então, foi aprovado.

Antes de qualquer alteração, o cardeal chileno teria consultado o órgão jurídico do Vaticano sobre a legalidade das votações antes de enviar o texto ao papa. Os consultores tinham duas opções: considerar a última votação e permitir que o artigo fosse adicionado ou considerar que ele já havia sido recusado em votação anterior.

A versão que vingou foi a de que o que valeria era a primeira votação e o artigo não poderia entrar. O cardeal Giovanni Battista Ré, presidente da Pontifica Comissão para a América Latina, mandou uma carta confidencial aos bispos explicando a modificação.

As demais mudanças teriam sido feitas pelo próprio cardeal Errázuriz, numa suposta tentativa de adequar a linguagem do texto aos objetivos de Bento XVI. “Ele se antecipou ao que o papa provavelmente faria”, explicou uma fonte no Vaticano. Só que o cardeal não comunicou as mudanças a seus pares. Não por acaso, o texto entregue ao papa foi aprovado quase que imediatamente. “A assinatura dele significa que o texto não mais será debatido. O assunto foi encerrado”, concluiu o entrevistado.

Do Site:


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