Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Tenho ouvido as pessoas confessarem que infringiram cada um dos Dez Mandamentos, menos aquele que diz: “Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Porém, esse nono mandamento é o que violamos mais frequentemente. Não há outro desvio da natureza humana que seja ao mesmo tempo tão comum e pleno de malignidade. Todos nós, de uma forma ou de outra, ou somos culpados ou fomos alvos dessa crueldade. Quanto dano irreparável tem sido causado a pessoas inocentes por causa dessa prática irrefletida!
Esse mau hábito revela duas coisas. Primeiro, a falta de misericórdia, por não sabermos o que há por trás dos atos da pessoa a quem condenamos. Por isso, em nossas relações diárias, arriscarmo-nos a estragar a reputação de alguém por deixarmos de ver sob a superfície com olhos de compaixão. Segundo, revela uma desagradável falha de caráter na impressão deixada de que somos “perfeitos”. Essa nossa atitude parece dizer: “Eu devo ser bom; basta ver todo o mal que encontro nos outros”.
O impulso de julgar o próximo é uma medida defensiva bem entranhada em nossa natureza. Censuramos as características dos outros e louvamos as nossas. Aquilo que vemos em nós como firmeza, no outro é obstinação. Em nós é virtude; nos outros, vício. Essa característica reacionária nos leva a uma conclusão: quem quiser descobrir os pontos fracos de uma pessoa, observe as falhas que esta vê com mais facilidade nos outros.
O nono mandamento é de fundamental importância para as relações sociais. Cumpri-lo não é necessariamente uma virtude, é uma obrigação que tem a ver com o caráter. Pode até ser difícil cumpri-lo, mas gostaria de citar cinco regras que certamente nos ajudarão a vencer o mau hábito de julgar, se tomarmos a firme decisão de praticá-las, a seguir:
Nunca fale por detrás o que não disse antes ao próprio criticado. Como a maioria das críticas são injustas e jamais poderiam ser ditas à pessoa interessada, essa regra é fundamental para acabar com a atitude crítica peculiar à nossa natureza. De modo geral, o que foi dito à pessoa alvo da observação jamais será dito levianamente na sua ausência.
Esteja certo de conhecer toda a verdade, para que o seu testemunho não seja apenas circunstancial. Somos responsáveis tanto pelo que ouvimos como pelo que falamos. Por isso, é importante avaliar os fatos, assim também como as intenções e os motivos de quem os conta, antes de julgar precipitadamente.
Certifique-se de que possa haver circunstâncias atenuantes, por mais que a culpa de outrem pareça certa. Na vida há sempre uma adversativa da esperança, um “mas” a ser dito de forma positiva. Cultive o hábito de olhar o que há de bom nas pessoas. Faça comentários positivos a respeito das pessoas, pratique a arte dos “mexericos favoráveis”. Esse hábito dá amplitude à alma e melhora o ambiente ao nosso redor.
Sempre que possível, procure evitar que a crítica seja levada adiante. Use a regra dos três crivos. Se alguém quiser falar algo a respeito de outrem, pergunte-lhe se isso já foi passado pelos três crivos. Primeiro crivo: o que vai dizer é verdade? Segundo crivo: se eu ouvir, isso vai me edificar? Terceiro crivo: se eu contar a alguém, isso vai edificá-lo? O crítico contumaz nunca passa no teste.
Deixe a Deus todo o julgamento dos pecados alheios. Não tente ser como Deus, pois isso é presunção pecaminosa. Só Ele pode julgar com perfeição. Jesus disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados”. Lembremos de Sua clássica reação contra os julgadores da mulher pecadora encontrada no ato de adultério, quando disse: “Quem estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire a pedra”.
Lembre-se do líder que, injustamente caluniado por um membro de sua comunidade, sentiu uma tristeza tal que quase o levou à morte. Pesado de consciência e desesperado pelo mal feito, aquele homem resolveu pedir perdão ao líder, que resolveu perdoá-lo, mas pediu-lhe antes que levasse um travesseiro de penas a um alto monte e as espalhasse ao vento, e depois voltasse. Feito isso, o homem retornou. Aquele líder lhe disse: “Agora volte e apanhe cada uma das penas que você soltou”. O homem retrucou: “Mas isso é impossível! Está ventando muito e as penas se espalharam sem controle”. “É isso,” – disse o líder – “assim também ocorreu com suas calúnias contra mim”.
Não quebre o nono mandamento. Não deixe, portanto, que o Diabo use sua vida para enlamear a de outros. Atente para o conselho do estadista Edmund Burke: “Para que o mal triunfe, basta que os bons não façam nada”. Siga o que Jesus ensinou: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas”.
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