Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém
Na cidade de Amsterdã, na Holanda, em 1986, cerca de 8 mil evangelistas procedentes de 174 países se reuniram no Centro RAI, a fim de receberem treinamento e incentivo. Era a realização do sonho de Billy Graham, um dos maiores evangelistas da história da Igreja, também considerado o cristão mais influente do Século XX, sendo amigo e conselheiro de presidentes e chefes de estado do mundo inteiro. Sua maior paixão era levar pessoas a conhecerem Jesus Cristo. Nessa conferência, ele conversou com um evangelista africano, a respeito do qual disse: “Jamais me esquecerei dele”.
Billy Graham assim o descreveu: “Pelas suas roupas, tudo levava a crer que ele procedia de um país pobre e tinha poucas posses. Seu rosto irradiava bondade e alegria; relatava também o compromisso e a consagração que presenciei várias vezes durante a conferência. Aquele evangelista e as demais pessoas no hall estavam exaustos; eram homens e mulheres procedentes dos lugares mais miseráveis do mundo, muitos portando cicatrizes físicas e emocionais da perseguição. A maioria esteve na prisão por causa de sua fé”.
Eles travaram o seguinte diálogo: “De onde você é?” – indagou Billy Graham. “De Botsuana”.
Incentivado pela pergunta, ele falou sobre o seu ministério. Disse que viajava, quase sempre a pé, pelos povoados, pregando o evangelho de Cristo a quem quisesse ouvir. Às vezes, admitiu, sentia-se desanimado em razão de constantes oposições e pouca receptividade.
“Há quantos cristãos em Botsuana?”
“Alguns. Bem poucos”.
“Qual é a sua formação? Você frequentou escola bíblica ou fez algum curso para ajudá-lo em seu trabalho?”
“Na verdade, eu recebi diploma de mestrado pela Universidade de Cambridge”.
Impactado, Billy Graham disse depois: “Senti-me imediatamente envergonhado por tê-lo rotulado como alguém sem formação acadêmica. Também recebi uma lição de humildade, não apenas por ser mais instruído do que eu, mas por algo mais: qualquer homem de Botsuana que retornasse à sua subdesenvolvida terra natal com um ambicionado diploma de Cambridge encontraria oportunidades praticamente ilimitadas para conseguir poder político, posição social e progresso financeiro. Aquele homem, porém, sentia-se plenamente feliz por ter atendido ao chamado de Cristo para ser evangelista. Ele poderia repetir com toda a sinceridade as palavras do apóstolo Paulo: “Mas o que para mim era lucro, isto considerei perda por causa de Cristo”.
Este exemplo contrasta o sentimento reinante no mundo, de que o que realmente importa é posição, prestígio e poder, principalmente quando acompanhados do respectivo reconhecimento público. Dentro de não poucas igrejas, semelhantemente, isso também pode ser visto: líderes mais interessados no prestígio que o reconhecimento público oferece do que na aprovação de Deus. O que ainda parece uma exceção, será um problema se vier a tornar-se regra.
Lembro-me da história de um antigo pastor a quem foi oferecido o título de “doutor honoris causa” em teologia, por causa dos grandes serviços prestados à teologia neste País, com mais de dez obras publicadas. Em sua carta de resposta ao conselho de teólogos que o escolhera para receber essa comenda, disse: “Tudo o que fiz, somente pela graça de Deus o fiz. Sou apenas um servo, nada mais. Por isso, mesmo agradecido pela lembrança, sinto-me no dever de dizer que não posso receber tal honraria, pois só ao Senhor pertence a glória de todo o trabalho que realizou por meu intermédio”.
Não é no mínimo estranho que alguns líderes cristãos, sem jamais terem publicado uma única obra ou cursado alguma universidade, tenham comprado, por alguns milhares de reais, títulos de “doutor honoris causa” em teologia e de “doutor em divindade”?
Talvez precisemos reaprender os princípios bíblicos que devem nortear a nossa posição diante do mundo e perante Deus. Afinal de contas, o que alguns pensam ser lucro pode ser uma completa perda. Paradoxalmente, o evangelho ensina: quem se exalta, é humilhado; quem se humilha, é exaltado. Os últimos serão os primeiros; e os primeiros, os últimos. Quem perde a vida por amor de Cristo, ganha a vida. É em servir, e não em ser servido, que uma pessoa se torna grande. Não é da ponta de uma honraria humana, mas de joelhos, que se olha mais longe.
A maior perda de todas, porém, é ser honrado por si mesmo ou pelos homens e não ser honrado por Deus. Como disse Paulo: “Porque não é aprovado quem a si mesmo se louva, e sim aquele a quem o Senhor louva”.
Por isso, a maior de todas as honras é ser o que o Senhor quer que sejamos, ocupar a posição que Ele quer que ocupemos e fazer a obra que Ele quer que realizemos, para a glória e louvor de Deus.
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