terça-feira, 2 de outubro de 2007

A PESQUISA DE JESUS






Por Caio Fábio







Quem a multidão diz que eu sou? — indagou Jesus de Seus discípulos enquanto andavam na direção do Monte Hermon, no Norte do país, até a cidade de Cesareia de Felipe, erguida no sopé da montanha.








Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mateus 16:14








Ora, entre a classe educada e culta dos judeus, o que se dizia de Jesus era que Ele era louco, endemoninhado, samaritano surtado, blasfemo, demolidor do Templo, destruidor da Lei, transgressor dos costumes, e um aproveitador da ingenuidade da plebe que nada sabia de religião; ou seja: da lei.








Isto, porém, era o que eles diziam em seu ódio apaixonado e ardente de inveja e de temor de perda de poder. No entanto, nem todos pensavam conforme diziam e confessavam; pois, houve quem dissesse: “agora ele fez um sinal que não podemos negar [a ressurreição de Lázaro], se o deixarmos, virão os romanos e tomarão nossos postos e o país”; e completa João: “pois por inveja o entregaram.”








Assim, entre o que a elite diz e o que ele vê, sente e de fato enxerga, há, muitas vezes, uma insinceridade de dimensões abissais. No entanto, o povo, ou as multidões, como designou Jesus, tende a ser mais sincera em sua apreciação nem sempre profunda. Todavia, todas as opiniões do povo sobre Jesus, ainda que aquém de Quem ele fosse, foram positivas e o relacionavam a gente boa como João Batista, Elias, Jeremias ou algum dos profetas antigos.








O interessante é que o povo não teve interesse em semelhanças e nem em lógicas, mas apenas em demonstração de intrepidez e poder. Sim! Porque se tivessem associado Jesus a poder apenas como milagre, teriam que ter mencionado além do nome de Elias [um realizador de sinais], o nome de Eliseu, ou mesmo Moisés.








Mas não dava para associar Jesus a Moisés, pois, em relação a Moisés, Jesus sempre tinha um “eu, porém”.








Interessante é que ninguém do povo parecia se preocupar com o fato de João Batista ter morrido depois de ter batizado a Jesus, e depois de Jesus já ser Jesus para todo o povo. Era como se tivesse havido uma ultra-incorporação. Além disso, parecia também não importar que ambas as personalidades, de Jesus e de João Batista, fossem tão díspares. Ou seja: o que interessava ao povo era ter um representante ousado e que fosse a continuidade sobrenatural do maior molestador de Israel nos anos anteriores: João Batista, o mesmo acerca de quem se diz que nunca fez nenhum sinal, mas tudo quanto disse acerca de Jesus era verdade.








Elias também era cogitado, provavelmente o mais popular entre os cogitados. Jesus seria Elias, cheio de ousadia, e com poder de enfrentar a Jezabel de Roma e dos corruptos do Templo. E as curas e milagres de Jesus deveriam ser extensão do poder de operar milagres que Elias manifestara. Entretanto, as profundas dessemelhanças em tudo, em nada importavam, nem nos modos e nem nos conteúdos.








Então aparece Jeremias. Sim! O Jeremias doído e lamentoso é apontado como candidato a estar reencarnado em Jesus. O povo sempre creu em reencarnação. Se Vox Populi fosse Vox Dei, então a reencarnação seria verdade quase absoluta entre os humanos. Entretanto, Jesus Jeremias e Jeremias Jesus são tão parecidos como personalidades quanto Chorinho e Lambada são como ritmos e estilos musicais. Jeremias? Jesus era Jeremias. Eu acho muito engraçado. Mas tinha gente sincera do povo que cria daquele jeito. Fazer o quê? O povo sente e vai... Vai sem saber nem bem o que pensa, mas vai... Então, Jesus pode ser Jeremias, por que não?








Mas havia aqueles que diziam: Pode ser qualquer um dos profetas! Ora, esses eram os que sabiam apenas que aquele homem era da mesma qualidade dos que haviam outrora vivido como profetas, acerca de quem eles ouviam e liam. Esse tipo respondia assim: Sei lá quem ele é! Só sei que é profeta.








O povo tem todas as razões que deseje ter para considerar alguém o que bem entender, mas, em geral, o povo erra numa boa, sem ser como o erro perverso dos que chamam a pessoa de diabo doido apenas porque precisam manter o poder, mesmo que saibam que daquele que eles planejam matar emane um poder que eles não podem negar. Mas a inveja e o medo cegam a mente, e o individuo pratica toda sorte de perversidade.








O povo é cheio de boas intenções em relação ao que de Deus possa vir, mas, a maioria das vezes, serve qualquer pessoa ou coisa que seja de alguma forma relacionada a algo que faça parte da crença que brota do berço dos pobres.








O interessante é que Jesus foi identificado com pessoas totalmente diferentes Dele em tudo; exceto no conteúdo da confissão da fé. O povo sabia que Jesus tinha a ver com Deus assim como os profetas tiveram.








A Voz do Povo não é a Voz de Deus; exceto quando ecoa o que de Deus vem.








Assim, na sinceridade, o povo via Deus sobre Jesus, como Deus fora sobre os profetas anteriores; ao mesmo tempo em que criam que Jesus poderia ser uma reencarnação de algum deles; ou até um profeta duplamente turbinado — tomado pelo seu próprio espírito e pelo de João Batista, morto havia pouco tempo.








Assim, o que nos salva de nós mesmos é o que não vem de nossas cogitações, mas apenas e tão somente como revelação de Deus; pois, assim, e somente assim, se tem a razão sincera para responder: “Eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus”, como Pedro, um do povo, veio a responder antes de qualquer outro discípulo.








ESTAÇÃO BH



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