sábado, 27 de agosto de 2011

A bênção de estar no lugar certo








Samuel Câmara
Pastor da Assembleia de Deus em Belém




Numa família de camponeses havia dois irmãos, sendo o mais velho jovial, responsável e trabalhador, cuja vida prosperava sempre. O mais moço, ao contrário, desocupado e irresponsável, tinha por hábito deitar-se numa rede enquanto lançava dardos numa porta, tornando-se um excelente atirador, ao ponto de dardejar insetos com absoluta precisão. Não podendo suportar tal situação e cansado de sustentar sozinho a casa, o mais velho desafiou o caçula a ganhar algum dinheiro, nem que fosse com sua aptidão para dardejar. Assim, levou-o ao Palácio Real e solicitou aos oficiais que os levassem à presença do rei.

O rei, então, mandou um dos oficiais trazer cem dardos, ordenando que ele os atirasse em insetos previamente postados. Depois, conferiu que o moço tinha acertado todos os alvos “na mosca”. Impressionado, o rei despediu os irmãos e disse ao oficial: “Acompanhe estes moços até a saída do Palácio, pague a cada um cinco moedas de prata e aplique quarenta chibatadas no moço dos dardos”. Indagado sobre o porquê disso, o rei respondeu: “As moedas são para recompensá-lo pelo talento desenvolvido; as chibatadas são para que aprenda a não mais desenvolver um precioso talento para algo tão inútil”.

Moral da história: o exercício de um talento inútil pouco serve a quem o possui e nada contribui para a sociedade. Assim, cabe perguntar: para que serve o talento desenvolvido por você? Ele é necessário para promover uma justa cooperação na sociedade, ou é apenas um meio de ir levando a vida sem viver a satisfação de ser útil? Sua resposta indica se você é a pessoa certa ou não para a posição que ora ocupa na vida.

Não resta dúvida que encontrar a pessoa certa para o lugar certo é um dos maiores desafios da sociedade, principalmente quando pensamos a sociedade como um organismo, onde cada membro desempenha suas funções de acordo com seus talentos específicos.

Pensemos, pois, na sociedade como um corpo. Essa foi a ideia que Paulo, o apóstolo, desenvolveu em relação à funcionalidade da Igreja, o corpo místico de Cristo, que pode ser perfeitamente apropriada para refletirmos a vida em sociedade.

Paulo disse: “Porque o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que parecem ser mais fracos, são necessários (...) e não haja divisão no corpo; pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor um dos outros” (1 Co 12.14-22).

A sociedade deveria funcionar de modo semelhante, mas há gritantes anomalias. Há pessoas que, por estarem na posição errada, para a qual não foram preparadas, são como olhos lutando desesperadamente para desempenharem as funções do ouvido. Isso nos remete à base do problema, que alia a vocação e a educação que desenvolve os meios de exercê-la. Ninguém pode negar que esse problema educacional se encontra na raiz da necessidade essencial de capacitação profissional em nosso país.

Há aqueles que, por falta de oportunidade ou por mera preguiça existencial, desenvolvem talentos inúteis para a sociedade, algo como um olho que treina para só enxergar bem quando for colocado na parte de trás da cabeça. Nesse grupo se encontram os preguiçosos contumazes, os que só querem levar vantagem, e também os criminosos de todos os níveis, do reles ladrão de galinha ao corrupto de colarinho branco. Estes não se dão conta de que gastam muito mais energia psíquica tramando e fazendo mal, ou apenas não fazendo bem algum, do que gastariam se praticassem o bem.

Estes sempre mandam uma mensagem: estamos no lugar errado!


Precisamos, portanto, buscar sempre a pessoa certa para o lugar certo. Quando depender de nós, lutemos para estar mais bem preparados para servir. Ou então, se temos de escolher os nossos líderes, que olhemos antes para sua vida e conduta, para não sermos coniventes com suas injustiças.


De qualquer modo, para cada pessoa, sempre restará esta pergunta: você está no lugar certo?





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