Samuel
Câmara
Pastor
da Assembleia de Deus em Belém
Numa família de camponeses havia dois irmãos,
sendo o mais velho jovial, responsável e trabalhador, cuja vida prosperava sempre.
O mais moço, ao contrário, desocupado e irresponsável, tinha por hábito deitar-se
numa rede enquanto lançava dardos numa porta, tornando-se um excelente atirador,
ao ponto de dardejar insetos com absoluta precisão. Não podendo suportar tal
situação e cansado de sustentar sozinho a casa, o mais velho desafiou o caçula a
ganhar algum dinheiro, nem que fosse com sua aptidão para dardejar. Assim,
levou-o ao Palácio Real e solicitou aos oficiais que os levassem à presença do rei.
O rei, então, mandou um dos oficiais trazer cem
dardos, ordenando que ele os atirasse em insetos previamente postados. Depois,
conferiu que o moço tinha acertado todos os alvos “na mosca”. Impressionado, o rei
despediu os irmãos e disse ao oficial: “Acompanhe estes moços até a saída do
Palácio, pague a cada um cinco moedas de prata e aplique quarenta chibatadas no
moço dos dardos”. Indagado sobre o porquê disso, o rei respondeu: “As moedas
são para recompensá-lo pelo talento desenvolvido; as chibatadas são para que
aprenda a não mais desenvolver um precioso talento para algo tão inútil”.
Moral da história: o exercício de um talento
inútil pouco serve a quem o possui e nada contribui para a sociedade. Assim,
cabe perguntar: para que serve o
talento desenvolvido por você? Ele é necessário para promover uma justa
cooperação na sociedade, ou é apenas um meio de ir levando a vida sem viver a satisfação
de ser útil? Sua resposta indica se você é a pessoa certa ou não para a posição
que ora ocupa na vida.
Não resta dúvida que encontrar a pessoa certa para o lugar certo é um dos
maiores desafios da sociedade, principalmente quando pensamos a sociedade como
um organismo, onde cada membro desempenha suas funções de acordo com seus
talentos específicos.
Pensemos, pois, na sociedade
como um corpo. Essa foi a ideia que Paulo, o apóstolo, desenvolveu em relação à
funcionalidade da Igreja, o corpo místico de Cristo, que pode ser perfeitamente
apropriada para refletirmos a vida em sociedade.
Paulo disse: “Porque o corpo
não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do
corpo; nem por isso deixa de ser do corpo. Se o ouvido disser: Porque não sou
olho, não sou do corpo; nem por isso deixa de o ser. Se todo o corpo fosse
olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde, o olfato? Mas Deus
dispôs os membros, colocando cada um deles no corpo, como lhe aprouve. Se todos
fossem um só membro, onde estaria o corpo? O certo é que há muitos membros, mas
um só corpo. Não podem os olhos dizer à mão: Não precisamos de ti; nem ainda a
cabeça, aos pés: Não preciso de vós. Pelo contrário, os membros do corpo que
parecem ser mais fracos, são necessários (...) e não haja divisão no corpo;
pelo contrário, cooperem os membros, com igual cuidado, em favor um dos outros”
(1 Co 12.14-22).
A sociedade deveria funcionar
de modo semelhante, mas há gritantes anomalias. Há pessoas que, por estarem na
posição errada, para a qual não foram preparadas, são como olhos lutando
desesperadamente para desempenharem as funções do ouvido. Isso nos remete à
base do problema, que alia a vocação e a educação que desenvolve os meios de
exercê-la. Ninguém pode negar que esse problema educacional se encontra na raiz
da necessidade essencial de capacitação profissional em nosso país.
Há aqueles que, por falta de
oportunidade ou por mera preguiça existencial, desenvolvem talentos inúteis
para a sociedade, algo como um olho que treina para só enxergar bem quando for
colocado na parte de trás da cabeça. Nesse grupo se encontram os preguiçosos
contumazes, os que só querem levar vantagem, e também os criminosos de todos os
níveis, do reles ladrão de galinha ao corrupto de colarinho branco. Estes não
se dão conta de que gastam muito mais energia psíquica tramando e fazendo mal,
ou apenas não fazendo bem algum, do que gastariam se praticassem o bem.
Estes sempre mandam uma
mensagem: estamos no lugar errado!
Precisamos, portanto, buscar sempre a pessoa certa para o lugar certo. Quando depender de nós, lutemos para estar mais bem preparados para servir. Ou então, se temos de escolher os nossos líderes, que olhemos antes para sua vida e conduta, para não sermos coniventes com suas injustiças.
De qualquer modo, para cada pessoa, sempre restará esta pergunta: você está no lugar certo?
.
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