terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Tensão e ceticismo na cidade em que Cristo nasceu

BELÉM - Quatro ônibus cheios de peregrinos de Brasil, Coréia do Norte, Espanha e México passam diante do muro de segurança israelense (entre Jerusalém e Belém), no qual alguém desenhou um Pinóquio com a bandeira americana e um enorme nariz em forma de míssil. Pinóquio solta pombas brancas, mas esconde armas sob a roupa. Vive-se este Natal em Belém – a cidade que, segundo a tradição cristã, viu nascer Cristo – com sentimentos contraditórios. Pela primeira vez desde o início da segunda intifada palestina, em 2000, uma Torre de Babel de peregrinos de todo o mundo chega à Terra Santa.






As barracas de suvenir estão mais cheias. São dezenas de milhares de pessoas que chegam à pequena cidade, sobretudo quando se aproxima o Natal.” Pelo menos israelenses e palestinos voltaram a falar de paz”, observa Ju Sin-kim, da Coréia do Norte, referindo-se ao processo iniciado semanas atrás na conferência de Annapolis, nos EUA, em que palestinos e israelenses voltaram oficialmente ao diálogo após nove anos de interrupção.






O muro, que na verdade é mais uma cerca de segurança, foi construído após atentados a cidades israelenses. “Eu gostaria que o muro fosse derrubado. Mas graças a ele, meus filhos podem ir à escola sem temer a volta para casa”, explica Itzik, um oficial da reserva israelense. A explicação não convence a população palestina, que não tem permissão de cruzar a barreira em direção a Jerusalém. Segundo muitos em Belém, o objetivo do que definem como “o muro da vergonha e do apartheid” é humilhar os palestinos. Por isso, no muro há pichações como “Salvem a Palestina”, “Isto é um gueto”. Taufiq Salsaa é um carpinteiro de Belém de 72 anos. Há 50 esculpe figuras bíblicas. Este ano seu trabalho atraiu a atenção internacional. Entre Jesus, Maria e José, ele construiu um muro no presépio.”Minhas figuras são um grito aos cristãos de todo o mundo para que conheçam a difícil realidade que vivemos, que limita nossos movimentos e nos faz cruzar dezenas de postos de controle militares”.






Alguns cristãos de Belém reconhecem o temor diante de outro fenômeno dos últimos anos, que os faz se sentirem ameaçados. A tsunami islamista da Faixa de Gaza, que ameaça ampliar-se na Cisjordânia. Cristo Sayer, pai de quatro filhos, é um dos 1.800 cristãos que permanecem em Gaza.






Este ano é a primeira vez que celebram o Natal sob o controle do Hamas na região. Há poucos anos, eram quatro mil, mas muitos decidiram emigrar, em vários casos para a América Latina.”





Uma sombra desce sobre seu rosto quando recorda o assassinato de um amigo cristão em Gaza. “Foi há dois meses. Sua família entrou em contato com o Hamas para pedir explicações. Até o momento não recebemos nenhuma informação. Na Faixa de Gaza não há nada, nem governo, nem segurança, nem prosperidade”. Na Praça da Natividade, em frente à Basílica, um grupo de peregrinos brasileiros abre a bandeira com o lema Ordem e Progresso.” É uma emoção muito grande chegar aqui. Planejei isso toda a minha vida. É como se Cristo estivesse mais perto de mim”, disse o carioca José Silva. (AG)






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